DOMINGUEIRAS DO TIÃO

DE COMO O SENADOR FOI ENTERRADO DEBAIXO DO MAIOR TIROTEIO

A Paraíba chorou quando o senador Humberto Lucena morreu em 13 de abril de 1998. Era um homem muito querido pelo povo, principalmente aquele povo a quem costumava fazer favores, seguindo os passos do seu protetor Ruy Carneiro, morto da década de 70. Ao velório, no Palácio da Redenção, compareceram representantes de todos os municípios da Paraíba. Prefeitos, vereadores, suplentes, delegados, todo mundo devidamente convocado pelo governador Zé Maranhão a dar o ar da graça na passarela que se formou na Praça João Pessoa para as despedidas ao inditoso chefe. A missa de corpo presente foi celebrada pelo arcebispo Dom José Maria Pires e teve pastor protestante servindo de coroinha no auxilio aos trabalhos religiosos.

O jornalista Frutuoso Chaves, correspondente do jornal O Globo, deu a notícia da morte com direito a manchete nacional, carregando na emoção:

“JOÃO PESSOA – O corpo do senador Humberto Lucena (PMDB-PB) foi exposto à visitação pública, no início da noite de ontem, no Palácio da Redenção, a sede do governo da Paraíba, momentos depois do desembarque, em avião da Força Aérea Brasileira, no Aeroporto Castro Pinto, e do translado em viatura do Corpo de Bombeiros. O sepultamento, no Cemitério Senhor da Boa Sentença, ocorrerá hoje, às 11 h. O governador José Maranhão e o prefeito Cícero Lucena decretaram luto oficial por três dias e ponto facultativo hoje. Com isso, repartições públicas e escolas não terão atividades nesta quinta-feira. O senador Humberto Lucena será sepultado, em jazigo da família, com honras de chefe de estado.No trajeto, de 10 quilômetros entre o aeroporto e o Palácio do Governo, o cortejo formado por 800 carros, segundo cálculo da Polícia Militar, passou ao longo de seis bairros, atraindo as pessoas às janelas e calçadas. No aeroporto, em meio a multidão, o corpo foi recebido pelos familiares, o governador e pelos dois outros senadores do PMDB, Ronaldo Cunha  Lima e Ney Suassua, entre eles o empresário José Wellington Roberto, de 38 anos, transitava sem ser reconhecido. Primeiro suplente de Lucena, ele ocupará a vaga como senador pela Paraíba, até 2003”.

O governo convocou a Orquestra Sinfônica para entoar modas clássicas e fazer chorar meio mundo de gente, principalmente a viúva, que de chapéu preto na cabeça e véu cinza a lhe cobrir as faces, despedia-se do seu amado com suspiros silenciosos, como deve proceder toda dama de categoria em momentos de tristeza. Claro que havia quem ignorasse aquele silêncio. Os matutos lá do sertão estavam acostumados a ver viúvas se descabelando e levantando a saia para expressar o desespero.

O radialista Maurício Alves foi escalado por Antônio Malvino, da Rádio Sanhauá de Bayeux, para transmitir o enterro do ilustre paraibano. Maurício cobriu o evento desde a saída do caixão do Palácio do Governo. E quando a comitiva chegou ao cemitério Senhor da Boa Sentença e foi parada para que os cadetes da Polícia Militar prestassem uma homenagem disparando salvas de tiros, Maurício deu o seu show de encerramento, avisando:

– Malvino, neste momento o corpo do senador Humberto Lucena está sendo recebido a bala no cemitério”.

NIVER DE AMANDA

Hoje é o aniversário da minha amiga Amanda Rodrigues, esposa do meu amigo Ricardo Coutinho. Para ela, os parabéns do Tião e votos de muitas felicidades.