Um empresário lá do sertão defendeu a qualidade dos aviões da Azul que vão ligar Recife a Cajazeiras, discordando veementemente daqueles que debochavam da qualidade do aparelho. Segundo ele, esse avião é bom de voo, faz as linhas domésticas dos Estados Unidos há 50 e é conhecido como o trator dos ares.
Tomando como verdadeiras as informações do ilustre conterrâneo, concluo que o avião, com 50 anos de voo está muito viajado. E se é chamado de trator, fico a imaginar a dureza dos bancos e os incômodos provocados pelos catabios dos ares.
Só não sei se o conterrâneo Zeca de Raimundo vai concordar com as afirmações do empresário. Ele tem seus motivos.
Zeca de Raimundo não cabia em si de felicidade. Ia, finalmente, se amostrar aos conterrâneos, chegando no sertão de avião “pelos ares” como anunciou a um espantado Geraldo Padeiro, conterrâneo dos tempos bicudos, dos ontens de pobreza e necessidades.
– Vai ter avião voando pra Perdição -, anunciou Zeca, enquanto procurava o seu cofrinho de barro onde guardava as economias das noites insones como vigia do Mercado de Oitizeiro.
Não esquecia, jamais esqueceu do jeito como deixou a terrinha, um matulão nas costas, uma calça rasgada no fundo, umas moedas fajutas no bolso e um mundo de incertezas a aguardá-lo no desconhecido.
Agora ia voltar e voltar por cima, pelos ares, pelo céu, voando igual ao passarinho cantador que pousava na cumeeira da casinha humilde do Cancão onde repousava seus ossos cansados e doídos da labuta na roça.
Mas, e sempre tem um mas nessas histórias, apareceu um obstáculo na sua alegria.
Ao procurar o guichê da companhia para comprar a passagem, foi informado que o voo sairia de Recife direto para Perdição, sem parada em João Pessoa ou Campina Grande e sem baldeação em Soledade, onde esperava degustar um cuscuz com queijo de coalho e carne de bode.
– Mas essa menina, pra que serve então esse campo de aviação aqui em Santa Rita? – perguntou aborrecido.
A moça fez que não ouviu.
Aliás, todo mundo estava se fazendo de mouco, escondendo a cara com vergonha.
Depois de brilhar como Aeroporto Internacional, com direito a voos diretos para Buenos Aires e vice-versa, o Castro Pinto estava relegado ao papel de rodoviária de quinta categoria.
Zeca, claro, desistiu. Tinha o dinheiro da passagem aérea, mas não dispunha do numerário para fazer a viagem de ônibus até Pernambuco.
– Fica pra outra vez, viu! – avisou à moça do guichê. E olhando de banda, em tom de deboche, desabafou: -Também, com esses aviões usados, de cataventos nas asas, nem pensar. É muita omilhação!”
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