Foi um casamento sem pompas, de gente pobre, sem direito a recepção em casa de festa ou a discurso meloso do celebrante.
Aliás, o padre que nos casou falou pouco, estava apressado, não se sentiu estimulado a nos desejar uma felicidade maior do que aquela que está pregada no livro sagrado e que ele, o celebrante, é obrigado a dizer por dever de ofício.
E a data ficou marcada, também, pelo estrago causado na pequena bodega de Cabral, meu sogro, que teve as portas abertas em edição extraordinária para atender aos “convidados” que chegaram sem convites e não arredaram pé do terreiro da casinha do Ernani Sátyro até que lhes fosse servido o coquetel comemorativo.
Nem casa pra morar a gente tinha. A Cehap nos prometera uma no conjunto que nascia às margens da BR, mas quando do casamento as chaves ainda não estavam disponíveis.
Moramos de alugado e aí surgiu o inesperado problema: os ganhos do marido não cobriam as duas despesas. Ou fazia a feira ou pagava o aluguel. O jeito foi trabalhar dobrado, durante o dia na reportagem de A União e durante a noite na redação. O salário do dia era destinado a feira, o da noite ao aluguel.
E assim o tempo passou.
Vieram os meninos, os altos e baixos, os problemas comuns aos casamentos, essas coisas que se tornaram corriqueiras nos tempos modernos e que servem de pretexto para, por qualquer dor de dente, se pedir o divórcio.
Nós aguentamos o tranco, criamos as crianças, testemunhamos a chegada dos netos e hoje, com três filhos e cinco netos formando a família que nasceu lá atrás, voltamos a ser apenas dois, eu e ela, ela e eu, só que agora gemendo diferente, o prazer da juventude cedendo espaço para as dores nas juntas,no ciático, no mocotó, no reumatismo e noutros lugares que não convém nominar agora.
Quarenta e cinco anos se passaram, não sei quantos ainda virão, mas, acreditem, não estou arrependido. Se fosse casar de novo, casaria numa boa. E com Dona Cacilda, ainda por cima.
A quem mando meu beijo apaixonado neste seis de maio de 2023.
2 Comentários
MUITO BEM, SEU TIÃO!
Felicidades Tião e Dona Cacilda. Como canta o francês Salvatore Adamo, “C’est ma vie, c’est ma vie…”