opinião

A Alemanha não existe lá

25 de abril de 2021

 

Marcos Pires

Como assim, amiga? Ela insistiu: “- Marquinho, chamar o país de Alemanha e seus habitantes de alemães é coisa nossa”. Claro que minha curiosidade fora despertada ao extremo. Enquanto esperava a explicação, dei mais um gole no excelente vinho Scharzhofberger Auslese, safra de 2009, que ela trouxera de presente. Porém a história que ela contou estava melhor do que o vinho. Começou por me explicar que antigamente as tribos do que chamamos Alemanha eram o terror dos romanos, que os temiam a ponto de lhes designar como furor teutão, batizando aquela terra como Germania. Mas vejam bem, quem os chamou de germânicos foram os romanos, não eles, que continuaram sendo muitos grupos independentes, inclusive um deles conhecido como alemanos, daí erroneamente o nome Alemanha.
O que aconteceu na formação do país é uma história digna de contos de fadas. Principalmente porque tudo começou com os “criadores” de contos como Cinderela, João e Maria, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, A princesa e o sapo e tantos outros mais.
Refiro-me aos irmãos Grimm, que escreveram sua obra principal, um dicionário da língua local, o Deutsch. Pesquisaram a origem do Deutsch e lutaram muito para que a terra dos que falavam Deutsch se tornasse um país unido e democrático. Nós chamamos esse país de Alemanha, mas os “alemães” chamam seu país de Deutschland, terra dos que falam Deutsch.
Quanto aos irmãos Grimm, na verdade eles não criaram aqueles contos de fadas. O que fizeram (com muito mérito e competência) foi catalogar muitos causos populares, que eram contados por pessoas que eles conheciam, e publicar numa coletânea cuja primeira edição saiu em 1812. Ao longo do tempo, entretanto, quanto mais reimpressões eram feitas da obra, Wilhehm Grimm, que tinha um coração mole, ia modificando as narrativas para eliminar insinuações de violência e sexo. Para vocês terem uma ideia de como eram esses contos de fadas no original, Rapunzel vivia em prazer e alegria com o príncipe que escalava a torre e depois de engravidar, pergunta: “- Por que minhas roupas estão tão justas?”. No original a Bela Adormecida era estuprada. Num dos contos, “O pé de zimbro”, um homem viúvo com um filho se casa novamente e a nova esposa, com raiva por ter de criar o bebê de outra, pica o menino e faz um ensopado, que é servido ao marido. A sacada dos Grimm foi a adaptação dos contos para as crianças.
De quebra ajudaram a fundar uma nação.
“Se non è vero, è molto ben trovato”.

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