MARCOS PIRES
Sou filho e neto de comerciantes. Cresci em lojas. Portanto, o que vou tratar é do meu sangue. Mas todos vocês com certeza já passaram por algumas das situações emblemáticas da arte de vender. Primeiramente vamos trazer ao palco os piores vendedores do mundo.
Senhoras e senhores, com vocês os vendedores de lojas de luxo. Vaias que eles merecem. Você entra numa butique dessas bem finas ou numa loja de automóveis importados e os vendedores te olham da cabeça aos pés, dão um muxoxo e viram as costas. Até parece que eles são os donos do estabelecimento, esquecendo que no almoço vão comer em pé uma marmita xexelenta. Mas as poses são de milionários. Para esses casos deveríamos imitar um amigo meu que foi a uma loja caríssima na Rodeio Drive, em Los Angeles. Depois de conseguir superar o evidente ar de nojo da vendedora, foi provar um terno enquanto a megera montava guarda, colada no provador. Ele suspirou bem alto durante uns 3 minutos. Finalmente abriu a parte de cima da cortina, colocou sua cabeça para fora e bem serio pediu à nazista que lhe trouxesse papel higiênico.
Acho que é essa cara de pobre que temos. Por um lado ela serve para afastar os vendedores chatos, mas em compensação atrai os seguranças da loja que é uma beleza.
Não gosto também daqueles vendedores que te seguem o tempo todo pela loja puxando conversa, perguntando teu nome e dizendo o deles, como se estivéssemos construindo uma amizade de infância. Num dia que eu estava muito meio assim, o vendedor perguntou se poderia me ajudar. “- Não, obrigado, só vim aproveitar o ar condicionado”.
E às vezes somos obrigados a mentir. Quem de vocês já não olhou para o vendedor depois de experimentar só as porcarias que a loja tinha e soltou o clássico: “- Mais tarde eu volto”. Será que há alguma chance dele acreditar?
Mas vamos aos bons vendedores. Dia desses fui com mãe Leca e Van Van a uma loja bem simples. Ficaram na porta me esperando até que ouviram a vendedora pedir meu celular para fazer uma higienização GRATIS. Eita palavra mágica. Elas entraram e me empurraram do balcão. Depois compraram quase todo o estoque.
Porém a maior vendedora do mundo foi minha mãe, Creusa Pires. Estávamos liquidando o que sobrara da loja e uma senhora quis o ultimo par de sapatos. Só que um pé era 34 e o outro 36. Minha mãe fez um desconto e deu de brinde um pacote de algodão para a freguesa completar o pé maior. Até hoje eu me pergunto que destino teve a outra freguesa, que levou o primeiro par de sapatos trocados. São questões profundas da minha velhice, como por exemplo por onde andará Maria Dutra.
Sem Comentários