Por GILBERTO CARNEIRO
SEMPRE detestei a Barbie. Meus ideais progressistas latentes considerava uma afronta uma boneca de pele clara, olhos azuis, bem vestida, com direito a mansão, carro de luxo, lancha, enquanto minhas irmãs e primas brincavam com bonecas improvisadas de espigas de milho, penteando cada “cabelo” da espiga sob a ilusão de que o polen da espiga representava para elas uma Barbie no formato de “boneca de milho”.
Mas parece que o marxismo cultural aterrissou de vez em Hollywood, não apenas motivado pela disseminação ideológica dessas greves de roteiristas, atores e maconheiros em geral que ousam querer dar uma de Robin Hood ao defenderem a regulação da liberdade de lucros de executivos e acionistas da indústria cinematográfica.
E começaram os protestos. Bradam que o comunismo chegou até nos brinquedos das crianças, “afinal antigamente era muito melhor, a Barbie era coisa de menina e todo o resto de menino. Meninas vestiam rosa e meninos a cor que quisessem – exceto rosa”. Naquela época – reclamam: “a brincadeira era muito mais simples. Bastava vestir a boneca, prepará-la para os afazeres domésticos, montar uma casinha e pronto. Era a maneira ideal de educar as crianças para o mundo dos adultos, afinal, casa é coisa de mulher e todo o resto é coisa feita para homem”.
As queixas não param por aí. Acusam os malditos comunistas de estimular nossas crianças “a pensar em estereótipos, diversidade e inclusão”. O que querem seus bandos de comunistas? “Que se crie uma sociedade que reflita sobre os seus defeitos? Será o começo do fim”. Vejam o que estão fazendo – gritam: – “parece que essa nova Barbie largou o consumismo para aderir ao comunismo. O plano da Marxtell, a empresa herege, é criar e usar um exército de Barbies para doutrinar nossos filhos”.
Qual o próximo passo a ser dado? – perguntam quase que desesperados: – “uma Barbie vacinada contra a Covid-19? uma Barbie grevista e revolucionária?” E concluem: – “é preciso fazer algo, pois a Boneca Barbie, símbolo do capitalismo, do luxo e da ostentação não pode aderir ao movimento comunista”.
A Barbie foi criada em 1959. Demorou mais de setenta anos, quase um século para seus criadores perceberem que existe uma diversidade de Barbies: a de pele escura; aquela que dorme na rua; a órfã; a faminta; a operária; a mãe de família; e claro as Barbies de pele clara e olhos azuis, afinal como escreveu Renato Terra, roteirista e documentarista, “os loiros também são gente como a gente”.
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