João Pessoa tinha na Ponta do Cabo Branco o ponto mais oriental das Américas. Disso o povo que aqui mora se orgulhava, era uma atração turística, coisa boa de se ver. As fotografias antigas mostram aquela ponta bonita entrando no mar, investindo contra as ondas, parecendo um navio em demanda da África. O farol altaneiro avisava ao navegante que mais adiante havia um porto e na sua frente uma bela paisagem a ser desfrutada, fotografada e levada aos confins como mensagem de boas vindas. Os de a pés desfilavam pela estrada do Bosque dos Sonhos gravando em fotos as imagens que encantavam os olhos. Até os namorados, mais apaixonados do que nunca, olhavam a lua mais de perto enquanto faziam juras de amor eterno, misturando as batidas das ondas com a do coração.
O mar, com ciúmes daquilo, começou a destruir a barreira e ninguém ligou. Minto: os ambientalistas, os amantes da natureza, os enamorados, os pescadores e a gente do povo deu alarme, mas os prefeitos não ouviram, preocupados que estavam em roubar o dinheiro da Prefeitura. Disso se aproveitou o mar para comer a barreira devagarinho, feito câncer. Aliado a inércia dos prefeitos, aportaram na área os especuladores, vendo naquele chão a chance de mais ganhos, mais dinheiro no bolso. E começaram a desmatar a área, a construir prédios, a fazer condomínios de luxo, a descaracterizar a mata, a destruir o abrigo dos namorados de ontem.
E a chamada atração maior de João Pessoa minguou, encolheu, virou quase uma saudade, uma sombra, um fantasma. Hoje, para não ruir o resto, vive cercada, proibida, sem receber visita de carros ou de coisas pesadas. Acabou-se o ninho de amor, o esconderijo daquele radialista que levava seu corcel para perto do Bosque a fim de receber amor secreto de mancebos fantasmagóricos.
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Não é mais assim, caro jornalista Tião Lucena. A Falésia do Cabo Branco, depois da intervenção inadequada da Prefeitura de João Pessoa, está descaracterizada na sua beleza (natural) cênico-paisagística, e o que é pior: perde, também, sua identidade. Deixou de ser uma FALÉSIA VIVA para se transformar, impiedosamente, em FALÉSIA MORTA, não somente conceitualmente, mas verdadeiramente. Veja o que escreveu José Américo de Almeida, um dos mais antigos moradores da praia do Cabo Branco: “Observei a plástica do cabo, um monstro de cabeça verde e língua amarela estirada dentro da água. Lambido pelos vagalhões e por lufadas corrosivas, vai perdendo o seu porte, sem nenhuma proteção. De branco só tem o nome.”, e agora com a língua cortada sangra, e seu sangue, carreado por correntes marinhas, é perceptível na Enseada do Cabo Branca, cuja turbidez avermelhada atinge a antiga residência do escritor, hoje a Casa de José Américo de Almeida. Que ironia, aliás triste ironia!
Tião, deixa isso para lá. O radialista que ia no seu corcel acompanhado de mancebos para dá o “caneco”, ao entardecer, sob os cajueiros do Bosque dos Sonhos, já não está entre nós.
E eu pensando que era um ainda vivo: o último dinossauro do rádio pessoense.
Belíssima crônica! O fato do nosso Edil ser do Partido Verde, adiciona insulto ao agravo!