opinião

A boate Passargada

11 de outubro de 2020

 

MARCOS PIRES

(terceira parte)

A festa de inauguração da boate foi um tremendo sucesso. Entre tantas coisas que aconteceram começamos ali uma tradição que perdurou pelo tempo em que a Passargada existiu: ao final de cada noite servíamos gratuitamente para os frequentadores uma massa bem gostosa e depois eu convidava algumas pessoas para irmos à minha casa onde amanhecíamos tomando banho na piscina enquanto esperávamos pelo café da manhã, sempre com as tapiocas feitas por Dona Creusa Pires. Com relação a essa coisa da massa gratuita que servíamos, houve uma reclamação; um engraçadinho me disse um mês depois da inauguração que já estava cheio de só comer macarrão; quando iriamos servir lagosta? De graça ele iria esperar muito, né?

Tínhamos novidades até então absolutamente desconhecidas, como por exemplo um manobrista fardado (estávamos em 1977) que gentilmente abria a porta dos automóveis para ajudar as madamas a descerem. O manobrista continuou estacionando os carros dos clientes, porém logo parou de fazer a gentileza desde a noite em que um marido achou que aquilo de abrir porta para a patroa dele era enxerimento. Outra novidade era presentear alguns dos mais animados frequentadores com fitas cassete contendo as músicas mais tocadas na noite. Com relação às músicas, a Passargada também estava mil anos à frente da maioria das boates do Brasil. É que além de recebermos semanalmente os áudios comprados diretamente da New York City Discotheque (enormes rolos de fita), o nosso sonoplasta (hoje diz-se DJ) Eduardo Stucket viajava com frequência para comprar os sucessos recém lançados nos E.U.A., uns disquinhos coloridos com um furo enorme no meio, 45 rpm. Era um contrabando legitimo.

Só que na origem a boate não fora planejada para funcionar com esse tipo de música. Tanto que logo na semana seguinte à inauguração eu trouxe Nelson Gonçalves para duas noites de show. Na minha cabeça ele era o Frank Sinatra brasileiro. Grudei na fera nos dias em que ele esteve hospedado conosco. Figura incrível, era gago pra caramba e tomava um cafezinho a cada minuto. Porém definitivamente a vocação da Passargada era ser discoteca. Por isso o investimento no novo tipo de música.

Um único mau habito ancestral da vida noturna não conseguimos eliminar; os vales. Portanto, antes de continuar a contar as maravilhosas histórias da Passargada, gostaria de saber de vocês se devo ou não divulgar os nomes dos personagens que à época assinaram vales na minha boate e jamais pagaram.

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5 Comentários

  • Reply Miguel Lucena 11 de outubro de 2020 at 06:53

    Conta!!!!

  • Reply Homi da Caminhada 11 de outubro de 2020 at 07:31

    Sobre os “vales”, acho que você tem que tomar cuidado e muito cuidado, no caso se for falar dos ditos cujos. Se falar, você e um “homi” sem estilo, não aguentar um vale, vale é vale, o pagamento nem Deus sabe, se soubesse, não tinha chamando nenhum pra perto dele. Agora, voltando aos xexeiros, fale só dos mortos, quem sabe, alguém da família tenha “dó” e lhe pague.

  • Reply Sebastião Gerbase 11 de outubro de 2020 at 09:17

    Não divulgar os nomes dos trambiqueiros (em todo canto tem) seria uma grave omissão.

    • Reply ARNALDO 11 de outubro de 2020 at 22:28

      Esse “escritor” quer público, que leitores. Duvido que ele seja capaz de citar sequer um nome.

  • Reply Zeca Brown 11 de outubro de 2020 at 12:39

    Com certeza deve contar sim Marcos. Até porque se não contar, a história não terá a mesma graça

    Obs: Estou amando essas lembranças sobre a Passárgada, você gentilmente também poderia incluir algumas fotos da boate!

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