Marcos Pires
(quinta parte)
Havia na Passargada um escritório escondido, com um vidro enorme na parede, desses vidros espelhados só pelo lado de fora. Ficava acima da boate e de lá, vendo sem ser visto, daria para controlar todo o movimento. Pelo menos essa era a intenção original. Com o tempo o espaço foi usado para muitas outras finalidades. Uma vez serviu para o encontro de um amigo e uma amiga que naquela oportunidade ainda estavam casados com outras pessoas. Num movimento super ensaiado, com as benesses de dois garçons, cada um levantou-se da mesa que ocupava, explicando ao respectivo cônjuge que iria ao banheiro. Encontraram-se na cozinha, subiram juntos para meu escritório onde eu já os esperava com uma “viuve clicquot” gelando num balde de prata. Deixei-os em paz e depois de uns quinze minutos estavam de volta às suas mesas com o futuro selado. Morro sob tortura porém jamais direi seus nomes.
Daquele escritório acompanhamos muita coisa. Dois conhecidos conquistadores levaram para a super festa do natal 8 (isso mesmo, OITO) belas garotas. Ocuparam um espaço privilegiado de onde poderiam ser vistos por todos. Adoravam exibir-se. Só que naquela noite não deu para eles. Num curto espaço de tempo perderam todas, rigorosamente todas as garotas para outros frequentadores. Aquele episódio passou a ser conhecido como o “top de oito segundos” que a Globo usava antes de colocar seu jornal no ar. A cada top uma das beldades saia do camarote e caia nos braços de um dos “ursos” que frequentavam a Passargada. Em favor dos conquistadores devo dizer que nem chiaram. Saíram da boate e pouco depois voltaram com duas outras não tão beldades, porém com essas foram felizes até a madrugada. Naquela noite eu os convidei para o café da manhã na piscina de minha casa; prêmio pelo fair-play.
Muitas vezes fui feliz para sempre durante algumas horas naquele escritório. Daquele escritório vi muita coisa. Ali eu aprendi como verdadeiramente funciona a noite. Tem encanto e magia, mas tem um lado obscuro que pouquíssimas pessoas imaginariam. O ser humano se transforma quando bebe e nem sempre para melhor. Aprendi por exemplo que quando alguém está bêbado faz e diz o que pensou sóbrio. Mas há doçura e leveza na maioria das vezes.
Nos próximos capítulos outras pessoas dirão sobre a Passargada; gente que participou de sua breve e bela existência.
5 Comentários
Tá danado! Quando vim morar e estudar em João Pessoa, a boate Passárgada já não mais existia. Como é que posso sentir saudade do que não conheci?
Kkkkkk será Neymar????
Nas postagens anteriores e até aqui pedi gentilmente ao nobre Marcos Pires que pudesse colocar junto algumas fotos da boate, para quem não conheceu ter uma ideia sobre como era.
Uma pena ele não incluir algumas fotos.
Paulo Fernando, a culpa não é da boate, e também não é sua, a cidade da gente é onde a nossa mãe está. Mesmo você sendo um matuto, (teimoso) achei bacana você ter aprendido a lê, só faltou aprender a responder e a interpretar um texto. Sem isso, você merece uma nota, menos a do lobo-guará, já a tartaruga fica mais convincente, pela sua demora de chegar a capital.
O autor desse léro léro, chove mas não molha, ô de casa ô de fora, pasárgada, perseguida, tô dentro tô fora, faz dois domingos que escreve e nunca disse pelo menos onde funcionava em “casa”. Rua e número, ponto de referência, nome de quem levou cangáia. Só fez assanhar !!! Aí dento !!!