opinião

A boate Passargada (quarta parte)

18 de outubro de 2020

 

Marcos Pires

Durante o único ano de sua existência a Passargada reinou soberana. Era comum termos clientes vindos de outros Estados, principalmente Pernambuco, Ceará e Alagoas que viajavam até João Pessoa somente para conhecerem a boate. Eu cuidava de cada detalhe, principalmente das reservas. Jamais houve uma confusão, uma briga sequer nas badaladas noites que vivemos. O segredo era “barrar” o acesso aos conhecidos desafetos locais. Por exemplo, quando o jovem L.Z. fazia sua reserva, automaticamente eu sabia que o igualmente jovem W.F. não poderia estar naquele mesmo ambiente. Bastava um uísque para o primeiro lembrar que o segundo lhe tomara uma noiva. Daí a gritar “- Amigo urso” e partir para os bofetes era um instante. Isso foi fundamental à garantia da paz no ambiente. Eu contava com uma equipe fantástica. Chico Ferreira (hoje nome nacional nas artes plásticas) cuidava do caixa e da administração do pessoal. Pilotando o fogão estava Dona Berta e comandando os garçons o sensacional maitre Magela. Logo no inicio ele me pediu para fornecer a água mineral. Não entendi, mas me foi explicado que era praxe o envasamento “cagepal” das garrafas vazias, destinando-se o lucro extra ao reforço da caixinha dos garçons. Ri muito mas não permiti, porém coisa muito pior acontecia com a água na Passargada. É que a água que descia da cachoeira que arrodeava a pista de dança ia para o lago que ficava abaixo daquele dancing e voltava para cair novamente. Vez por outra um bêbado servia-se de uísque e para impressionar a garota com quem dançava, estendia o copo e completava a dose com aquela água, digamos…jurássica?

Sempre prestigiei os clientes locais. A mesa que mais consumia era a de Sólon Lins. Garantia a folha de pagamento do pessoal e ainda sobrava. Uma noite Sólon demorou a chegar. Era a única mesa vazia na boate lotada. Num determinado momento fui chamado à portaria porque um grupo já “animado” fazia questão de entrar. Nem discuti. Barrei mesmo. Sabem quem eram? Os atores da Globo capitaneados por Jardel Filho que haviam gravado um tal programa “Vamos abraçar o sol” em Recife. Sabendo da fama da Passargada queriam conhece-la. Eu lá ia trocar grana por fama! No final o famoso global ainda ameaçou: “- Aguarde o Jornal Nacional”. Ah, como eu aguardei! Já pensaram Cid Moreira falando mal da minha boate? Iria ter fila na porta da Passargada até na sexta-feira da Paixão.

Próxima semana tem mais, com direito a fofocas e chifres.

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2 Comentários

  • Reply José 18 de outubro de 2020 at 10:39

    Me deliciando a cada domingo com as histórias da Passargada. Seria interessante postar algumas fotos para os que não tiveram a honra de conhecer a boate.

  • Reply SIMPLICIO 18 de outubro de 2020 at 21:42

    Por que a Passárgada fechou ? Ou por que a justiça mandou fechar ? Se era tão badalada !!! Quebrou ? Faliu ? O que houve ? Bem, agora vamos saber essa estória de chifres. Se fosse boate de pobre, o termo seria “cangáia” mas como a casa era frequentada por ricos ou pseudos ricos, vamos admitir a palavra chifre. Chifre é chic !!!

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