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A BRIOSA

13 de maio de 2018

RAMALHO LEITE

A última grande reforma do Palácio da Redenção que incluiu a derrubada da Igreja da Conceição, sua vizinha da esquerda, obrigou o presidente João Pessoa a instalar seu gabinete na sede do Jornal A União, do outro lado da praça Comendador Felizardo, hoje denominada João Pessoa. Foi nessa ambiente improvisado que o gaúcho Jacob Guilherme Frantz pediu uma audiência ao Presidente. Desejava oferecer seus serviços para combater em Princesa. Não havia vaga para oficial, foi avisado pelo coronel Elísio Sobreira. Jacob queria ser soldado e foi aceito. Quando, poucas horas depois partiu em direção ao campo de luta, já levava no braço as fitas de sargento. Naquele tempo era assim. Hoje, a nossa briosa c orporação militar está estruturada em raízes sólidas e, para nela ingressar é preciso muito mais do que a atitude heroica do jovem nascido nos pampas.

Recentemente, convocados por edital, mais de oitenta mil brasileiros de todas as regiões do país se inscreveram para ocupar uma vaga de soldado da nossa polícia militar e/ou corpo de bombeiros. Para se ter uma ideia da concorrência que se estabeleceu, para as 300 vagas oferecidas na Capital, havia cerca de 82 candidatos disputando uma única vaga. Em Campina Grande, foram 70 a disputar um lugar de soldado. Por outro lado, as mulheres, que ganharam o direito de embelezar o corpo policial graças a uma lei do deputado José Fernandes de Lima, não encontraram caminho fácil. Para as 40 vagas de João Pessoa e Campina cerca de 320 e 237 jovens, respectivamente, pleitearam seu espaço.  

Para chegar a esse estágio de reconhecimento e credibilidade, a Policia Militar da Paraíba, que somente ganharia essa denominação a partir de 1947, teve que percorrer um caminho histórico de muitas façanhas gloriosas. Nascida das antigas Guardas Municipais Permanentes, criação do Primeiro Reinado, passou por transformações em sua estrutura e denominação, todavia, sem a preocupação moderna de melhorar a qualidade dos seus integrantes e, em consequência, os serviços a serem prestados à comunidade. Está longe a data em que o taperoaense, padre Galdino da Costa Vilar resolveu criar esse embrião da nossa polícia, por volta de 1832. Guarda, Força Pública, Corpo Policial, Corpo de Segurança e tantas outras denominações ao longo de seu percurso, fortaleceram a corporação e à trouxeram até os nossos dias.

Quer entrar como oficial na nossa Polícia, se inscreva primeiro no Enem. As notas do concurso nacional servirão para o ingresso no curso de formação de oficiais. O curso de formação para quem tem o nível médio, concluído, confere ao titulado o nível superior de Tecnólogo em Segurança Pública. E o soldado? Há de se pensar que uma única prova resolve. Desse último certame, cerca de dois mil foram selecionados. Estes serão submetidos a mais quatro etapas: exame psicotécnico, de caráter eliminatório, que avaliará as aptidões psicológicas do candidato para o exercício da função policial; exames de saúde, desde a capacidade visual à de ntição e à altura mínima exigida; avaliação social e aptidão física.

Revolvendo a minha memória, recordo uma audiência que mantive com o coronel João Gadelha de Oliveira, então comandante da PM, acompanhado de um humilde amigo de meu pai, que me encarregara de tentar fazê-lo soldado. O coronel, cavalheiro como sempre foi, nos recebeu muito bem e, relatou recomendação do governador para melhorar a qualidade dos soldados, muitos inteiramente analfabetos. E para cumprir essa ordem do governador, começou a indagar do meu candidato a praça: – Você sabe somar? -Não, foi a resposta; Dividir ou multiplicar? – Também não, respondeu o meu protegido. –Mas um ditado você sabe fazer, né? insistiu o coronel. – O que é isso? Foi a resposta do ex-quase futuro soldado. – Assim não dá, lamentou o coronel olhando na minha direção, como a pedir desculpas. O candidato, porém, não se fez de rogado: – Meu coronel, o senhor acha que se eu soubesse tudo isso que o senhor me perguntou, em vinha ser soldado de polícia?

No passado era essa a imagem da nossa briosa corporação, antes do Centro de Educação e dos concursos públicos para seleção de seus membros.

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