opinião

A carta final de Lulu a Miguezim

27 de dezembro de 2024

Miguel Lucena*

Pouco antes de partir para sua “casa no Céu”, Lulu Cristóvão deixou ao amigo Miguezim de Princesa um poema de despedida que traduzia sua filosofia de vida e sua visão poética sobre a morte. Com versos carregados de simplicidade e transcendência, Lulu eternizou sua essência, mostrando que a inspiração que o acompanhara na Terra continuaria a guiá-lo nas alturas.

O Poema de Despedida

“Da vida não levo nada
Só a minha inspiração
Que acompanha a minha alma
Por toda essa vastidão
Farei minha casa no Céu
Sem levar nada do chão.

O piso eu faço da lua
O teto é o firmamento
A luz serão as estrelas
Com esse poeta dentro
Quero ver quem é que corta
A luz com o sol no centro!”

A filosofia de Lulu sobre a eternidade

Lulu via a morte não como um fim, mas como uma transição. Para ele, o poeta não morria; apenas mudava de endereço. Sua casa no Céu era uma continuação do que ele sempre fez na Terra: construir beleza a partir do nada, transformar o simples em grandioso.

— A poesia é eterna, Miguezim. Se aqui eu fazia do Sertão o meu papel, lá em cima farei do infinito a minha página — costumava dizer Lulu.

O impacto em Miguezim

Quando recebeu o poema, Miguezim, emocionado, sentiu a força do amigo que partia. Ele respondeu com versos próprios, como se conversasse com Lulu pela última vez:

“No Céu tua casa já brilha,
com estrelas no telhado.
Aqui deixaste a poesia,
no Sertão eternizado.
Vai, Lulu, em tua jornada,
o infinito é teu legado.”

A Eternidade de Lulu Cristóvão

Lulu partiu em 1992, mas suas palavras continuam vivas, iluminando o Sertão e os corações dos que o conheceram. Sua “casa no Céu”, com piso de lua e teto de firmamento, é um símbolo de que a poesia não tem limites, assim como o espírito de um verdadeiro poeta.

Os versos que deixou a Miguezim são a prova de que Lulu compreendia que a única herança que realmente importa é aquela que carregamos na alma e que oferecemos ao mundo em forma de arte e inspiração. Ele transformou a finitude da vida em um verso eterno, que ecoa nas noites estreladas do Sertão.

Do livro Uma casa no Céu que estou escrevendo sobre o poeta popular esquecido Lulu Cristóvão, de Princesa, falecido em 1992

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