Juro que quando botei os pés pela primeira vez no solo de João Pessoa, tive vontade de voltar na mesma hora. Cidade doida, estranha, cheia de carros, apinhada de pessoas que não se cumprimentavam, dona de um calor abafado que tirava o ar dos pulmões, cheia de prédios enormes, esgotos fedidos encontrados em cada esquina, em tudo diferente da cidadezinha pequena, calma, verde, fria e cheirosa que deixara há pouco mais de cinco horas e na qual havia morado durante 23 anos quase ininterruptos.
Mal desci do ônibus, na velha rodoviária, me botaram dentro de um carro e levaram-me para a churrascaria A Gauchinha, que ficava e ainda fica no Distrito Industrial.Ali comi churrasco, bebi cerveja, fui apresentado aos meus futuros companheiros de farras e aventuras – Ba, Genebaldo, Fatão, Manduca, Lula, Normando, Zélia e Nevinha -, pela minha mestra de cerimônia, Eleika, que conhecera em Princesa, onde ela trabalhava como dentista no Sindicato presidido por meu pai.
A farra do churrasco foi paga por M…, uma moça passada nos anos que tinha um bom emprego e uma paixão fulminante por Genebaldo, o galeguinho dos zói azul que fingia namora-la para poder contar com a sua generosa boa vontade em pagar as contas.
Viera estudar no cursinho Águia, de Amândio Amadeu, para tentar o vestibular de Direito. O velho Miguel Fotógrafo fazia questão de ter um filho “bacharé” e eu estava decidido a lhe dar esse gosto.
A primeira morada aqui em João Pessoa foi na casa da amiga Eleika, localizada na rua Juarez Távora, no bairro da Torre. Fui recebido por dona Maria e seu Armando, os donos da casa, que fizeram questão de me deixar bem à vontade. As moças da família trataram de fazer os mimos ao rapazinho matuto que aportara na capital com uma maleta velha trazendo dentro meia dúzia de roupas e um monte de saudades. Dali só conhecia Eleika, mas logo me fiz amigo e irmão de Odésia, Oneide, Penha, Onilda e Nevinha, além dos irmãos homens Manduca, Lula e Odésio.
Dormia num quartinho dos fundos, numa cama de solteiro. Ao meu lado, noutra cama de solteiro, dormia seu Armando, um velhinho magro, simpático, motorista aposentado, que matava a insônia passando methiolate nas erisipelas .
O bairro da Torre, como já disse, foi minha primeira residência em João Pessoa. Com o passar dos dias e graças ao novo cicerone, Ba, comecei a conhecer as ruas, os bares, as intimidades dos moradores. O bar de Raul, que ficava na Aragão e Melo, reunia os notívagos. Mas eu preferia o de Faustino, perto do Mercado Público, por causa das três filhas dele, bonitas e formosas. Foi por causa delas que mudamos o nome do estabelecimento. Passou a chamar-se “Bar das Bichas Boas”.
Em frente à casa da Juarez Távora morava uma misteriosa moça. Era diferente, dona de uma beleza que chamava a atenção. Magra, cabelos curtos, olhos de oriental, trajava jeans o tempo todo e, orgulhosa, não olhava nem cumprimentava a ninguém. Aquilo me atraiu e de tanto insistir, acabei convencendo-a a dar um passeio pela Bica comigo.
Sim, o nome dela era Amélia. Até o nome era bonito.
Chegamos na Bica, vimos os animais, passeamos pelas veredas íngremes e quando encontramos um local mais aconchegante, nos demos ao desfrute de namorar. Beijo foi, beijo veio, abraços se repetiram, esfrega-esfrega se registraram e, depois de uns 40 minutos nesse rojão, ela, sem a menor cerimônia, pediu licença, se afastou de mim um pouco, baixou as calças, acocorou-se e mijou forte. Quando se levantou, deixou uma barroca no chão.
Juro que naquela hora achei que na Capital só tinha gente doida.
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