Eu não a alcancei, pois quando vim ao mundo já se dançava outros tipos de dança. Mas dizem que a “dança do torrado”foi introduzida em Princesa por uma famosa rapariga oriunda da Serra do Teixeira.
Essa dança, segundo os mais velhos, realizava-se em casas de pontas de rua ou mesmo em sítios, e a particularidade dela é que todo mundo dançava nu.
Daí todos ansiarem pela chegada de tão atrativo baile. Dançar nu só tinha desconforto depois de certas horas, quando os machões haviam bebido além da conta e não se conformavam apenas com o balançado e o esfregado nas suas respectivas damas.
Invariavelmente acontecia briga de fim de festa, pois havia quem não gostasse de receber a interferência dedal de algum enxerido.
Estudos atestam que o torrado foi criado por Lampião, o cangaceiro.
Chegando a uma festa de casamento no sítio de um desafeto, Lampião determinou que todo mundo tirasse a roupa e dançasse nu, em fila, com o detalhe de que cada qual teria que dançar com um dedo na boca e outro no cu. Quando a dança estava bastante animada, o capitão Virgolino mandou trocar de dedo.
-Assim tá danado, capitão! – gritou um dos dançarinos.
-Danado de que?!- respondeu Lampião lá de cima da mesa. E o cabra, batendo pino:
-Tá danado de bom!
Pois foi assim que o torrado chegou a Princesa, pelas mãos dessa maravilhosa diva teixeirense que desembarcou num remoto tempo na Rua da Lapa e dela só saiu para o cemitério. Eu ainda a conheci. Ela jurava que fora minha cunhada em eras priscas. Mas isso é outra história que poderei contar em futuros que se aproximam.
Por enquanto fiquem apenas com a lembrança do sobrenome dela: Quarto de Bode.
7 Comentários
Tião, gostei bastante do relato dessa história. Faz a continuação logo dela e posta aqui no Boiga.
E também explica o porque do nome ser “Quarto de Bode”
Eita, Tião velho macho da pôrra. A dama advinda do Teixeira, nao era outra senão a reboculosa RITA QUARTO DE BODE, responsável pela retirada do meu “cabaço” e de outros rapazotes da época, inclusive o de Tião. Depois da “cipoada”, a gente segurava uma bacia com as duas mãos e RITA colocava água e lavava a nossa chibata com sabão em barra, próprio para lavar roupa. Finalmente enxugava com uma toalha de rosto ou pano de prato. E era sem camisinha. Nunca peguei uma doença. Era a madeira entrando e RITA fazendo aquele remexido feito uma espiral que endoidava qualquer um. Nenhuma mulher hoje, rapariga, solteira ou casada faz um remexido tão perfeito quanto o de RITA. Está aí o velho Tião para não me deixar mentir. Saudades de RITA QUARTO DE BODE. Hoje, tem muitos doutores que deixaram seus cabaços naquela casa e depois no cabaré de Estrela. Vou deixar outros comentários a medida que Tião for escrevendo. Sou testemunha viva.
Tião, no tempo de RITA QUARTO DE BODE e do Cabaré de Estrela, já existia a Farmácia de Edezel ?
Já. E a de Seu Alfredo
Tião é verdade que Rita Quarto de Bode tirou teu cabaço ?
É, mas não espalha.
Basto – essa matéria deu IBOPE. O depoimento desse teu conterrâneo Edgar comprovou a existência dessa dama da noite. O assunto é palpitante e faz parte da história da brava Princesa Isabel. Deves dar sequência à matéria. Cabaré é cultura. Cabaré é pop, desde que a pessoa saiba escrever. E tu sabes.