O dia raiava em Angicos. A preguiça reinava entre os homens. Virgulino saiu da sua tenda, espreguiçou-se, foi até o fogo improvisado na entrada da barraca, encheu uma caneca de café e se preparava para beber o primeiro gole quando sentiu o impacto da bala entrando pela barriga. Caiu entre as pedras morto. Os outros cangaceiros começaram também a desmoronar sob os impactos dos tiros disparados pelos soldados comandados pelo tenente João Bezerra , chefe da tropa que, no silêncio da madrugada, cercara o acampamento e agora dizimava os cangaceiros, sem dar-lhes o direito de reagir.
Luiz Pedro acabara de furar o cerco e ia fugir, quando escutou o grito de Maria Bonita, lembrando a ele que prometera morrer ao lado de Lampião. Voltou, atirou a esmo e também tombou. A essa altura Maria também já estava morta, o corpo caído ao lado do corpo do marido.
A carnificina durou 15 minutos de intenso fogo. Ao final, jaziam estendidos entre as pedras de Angicos Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros.
O segundo ato foi ainda mais macabro. Um soldado violentou o corpo de Maria Bonita com um tronco de mandacaru. Outro arrancou a mão de Luiz Pedro para, quando tudo se acalmasse, retirar dela os anéis que enfeitavam os dedos.
Por derradeiro, deceparam as cabeças dos cangaceiros para exibi-las posteriormente como troféus nas escadarias das igrejas, dos museus e das praças públicas.
Terminava ali a carreira de Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião, o homem que espalhou terror e justiça pelo sertão nordestino, odiado por muitos, endeusado por tantos, uma lenda que ultrapassaria a barreira do tempo e se eternizaria através das histórias e estórias contadas e declamadas pelos que viveram esse tempo.
O tenente João Bezerra levou a fama, mas quem matou Lampião foi o soldado Sebastião Vieira Sandes, o Santo. Em 1970, o historiador Frederico Pernambucano de Mello conversou com um dos coiteiros do cangaceiro, o fazendeiro Audálio Tenório de Albuquerque, e este lhe revelou o nome do autor da façanha. E mais: Santo, que também era apelidado de Galeguinho, estava vivo.
Em 1978 Pernambucano localizou “Galeguinho” no Bairro do Farol, em Maceió, mas quando o abordou, foi rechaçado.
Somente no fim de 2003 “Galeguinho” aceitou falar. Estava com um aneurisma incurável e queria “destampar fatos” que não desejava levar para o túmulo.
Conversaram em 8 e 12 de dezembro de 2003 em Pedra de Delmiro Gouveia, Alagoas, onde “Galeguinho” se despedia dos parentes.
Os dois, “Galeguinho” e Lampião foram amigos de infância. Ambos fabricavam e vendiam artesanato. Até que se separaram, um entrou no cangaço e o outro sentou praça na Polícia.
Na entrevista a Frederico Pernambucano, “Santo” contou que naquela madrugada de 1938 ele subiu ao cume da grota de Angicos, de onde desferiu um único tiro, que atingiu o umbigo de Lampião, despois de resvalar no punhal do cangaceiro. Lampião tomava café diante de sua barraca quando desabou. As volantes atacaram em peso e os cabras tombaram um atrás do outro.
Santo encontrou Maria Bonita perto de Lampião, atingida na omoplata.
– Galeguinho, pelo amor de Deus, não deixe acabarem de me matar -, pediu Maria.
Nesse instante apareceu o autor do tiro que atingiu Maria para “dar cabo da bandida”, decapitando-a. “Santo”, sem conter as lágrimas, fez o mesmo com Lampião. Cada matador tinha que arrancar a cabeça do morto, assim rezava o código de honra dos macacos
“Santo” morreu em janeiro de 2004.
8 Comentários
Em 28 de julho de 1938, desaparecia o maior e mais famoso cangaçeiro, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampiao! Fazenda Agicos, Poço Redondo/SE
*ANGICOS
Meu caro Tião, sou seu fã. Mas qual Justiça Lampião espalhou pelo sertão nordestino?
Tião, você tem queda pela bandidagem? Me diga qual “justiça” que Lampião levou ao sertão nordestino?
No Nordeste brasileiro
Meio a caatinga e mormaço,
Numa época em que a lei
Era na bala e no braço,
Viveu por essa ribeira
O Virgulino Ferreira
Lampião, Rei do Cangaço.
Ocupando cada espaço
Viveu por esse torrão,
Implantou a sua lei
Sem pena sem compaixão,
Combateu a covardia
Dizendo que não servia
Para viver no sertão.
Despertou veneração
Foi amado e odiado,
Mesmo sendo controverso
Pelo sertão é lembrado,
Que no punhal e no braço
No cenário do cangaço
Edificou seu reinado.
Poeta cordelista
Rena Bezerra
Oxente..: que conversa é essa de que vc está fazendo uma pesquisa para saber se pública ou não um livro com esses escritos? Vai pesquisar la na baixa da égua, porque os meus 5 exemplares pode deixar reservados. Uma pena que Humberto Gomes de Barros já se foi. Ele conotaria outros 5.deuxa de preguiça , Tiao. Vai escrever.
Estuprador, bandido, saqueador. Matador de aluguel. Grande exemplo pro povo nordestino.
Viva a cultura nordestina! O q vale aqui são os fatos sobre o fenômeno cangaço e não se ele era bom ou ruim. Tem gente q acha q as volantes não valiam nada também! E por aí segue esse misterioso e fascinante Fenômeno!