MARCOS PIRES
Contaram-me que em uma cidade do interior da Paraíba, à época sem serviço de saneamento básico, um abastado político pretendeu esgotar a fossa de sua residência, e foi procurar um dos dois únicos limpadores de fossa da localidade, conhecidos respectivamente como Zé de Bem Bem (que gostava de falar difícil) e Chapeuzinho. Optou pelo primeiro, e ao propor o serviço, teve início o seguinte diálogo:
– Muito bem, Deputado, o serviço pode ser feito, mas eu conheço sua casa. Aquela fossa tem mais de vinte anos sem ser esgotada, e como moram para mais de uma multidão de trinta pessoas lá, deve haver muito material fecal de cocô acumulado. De maneiras que eu só faço o serviço se for de meia com o cumpade Chapeuzinho.
– Para mim está ótimo. E o pagamento?
– Doutor, não é por nada não, mas o material fecal que nos vai tirar exige muito trabalho…
– Vamos ser objetivos. Eu pago dez contos de reis. Mas só depois do serviço terminado.
– Tá certo…, e a cana?
– Que cana?
– Ah, Deputado, para entrar naquela matéria fecal só com umas lapadas de cana. Pior ainda na sua casa, que tem vinte anos de…, quer dizer, o senhor sabe, trinta pessoas, vinte anos, duas vezes por dia…. É isso, só vou por duas garrafas de cana.
Acertaram o serviço e as duas garrafas de cana foram pagas à vista. Bem Bem procurou Chapeuzinho e pelas onze da noite (fossa que é fossa só se abre à noite), tendo consumido as duas garrafas de cana, foram à casa do Deputado com uma lamparina. Bêbados, obviamente.
Abriram a fossa e Chapeuzinho argumentou:
– Cumpade Bem Bem, eu fico puxando o bardo e você desce.
– De jeito nenhum, cumpade. Quem desce é você, que é mais antigo na profissão.
– Mas de jeito nenhum. Quem arranjou o serviço foi você, é você quem conhece bem o jeito desse povo fazer os serviços.
Meia hora depois, finalmente Zé de Bem Bem pulou na fossa. Mas calculara mal tanto a profundidade da fossa como o seu, digamos, conteúdo. O resultado é que, mesmo na ponta dos pés e com a cabeça totalmente levantada, a tal matéria fecal chegava-lhe ao lábio inferior, não adentrando a boca por questão de milímetros. Não podia se mexer, sequer falar alto. E naquela posição, plena escuridão, meio que sussurrou:
– Cumpade Chapeuzinho, ô cumpade Chapeuzinho; não avôe a latra mode não fazer oindas.
Quem disse que Chapeuzinho ouviu?
O que se ouviu mesmo foi o barulho da “latra” caindo na fossa – Tchuaaa!
E a seguir um estranho glub glub. Estranho e nojento.
Desde então Zé de Bem Bem mudou de profissão; é cabo eleitoral. Diz ele que a matéria com que trabalha hoje em dia é mais fecal mas fede menos.
4 Comentários
Coisas de Pombal PB, né Soneca?
Ô besteira danada !!!!
A cidade é Pombal, a casa do deputado Atêncio Wanderley. Agora, se é verdade mesmo, eu tenho minhas dúvidas. Agora gostei do final: de que a matéria que ele trabalha hoje é mais fecal….kkkk
Eu amo demais ler esse tipo de histórias/causos.
Marcos Pires, eu lhes peço, por favor, escreva aqui mais dessas!