Existiu em Princesa um padre valentão. Chamava-se Frei Fernando e durou pouco na Paróquia, exatamente por causa da valentia.
Tinha porte atlético, media quase dois metros e era bonitão, muito embora não se tenha notícia de algum enxerimento seu com as mulheres do lugar. Os mais velhos garantem que o único padre enxerido a morar em Princesa foi Frei Cirilo, mesmo sendo feio, gordo e míope.Quanto a Frei Fernando, não gostava de ser contrariado, partia logo para a briga.
Teve o mérito de reabrir o cinema, fechado pelo antigo dono, Ferreirão. O Cine Santa Maria foi reaberto no mesmo prédio do cine antigo, na Rua Nova. O primeiro filme exibido no Santa Maria foi “Irmã Alegria”, em preto e branco e tremido.
Claro que o cinema se encheu. Quando tocava a música da Ave Maria anunciando a abertura das portas e da bilheteria, via-se uma verdadeira procissão de cinéfilos descendo pela Rua Nova, cada qual com seu tamborete ou cadeira nas costas, pois o cinema não tinha assentos ainda.
Numa dessas sessões cinematográficas houve a primeira briga.
Era terminantemente proibido fumar durante a projeção. Dizia-se que a fumaça prejudicava a qualidade da fita. Mas o jovem Andrade Marrocos não ligou pra isso, acendeu o seu cigarro e ao dar a primeira tragada, foi “tragado” pela voz do padre, que da plataforma erguida para abrigar a máquina projetora, viu a tocha acesa e a fumaça subindo.
Só que o padre, em vez de pedir, mandou “o moleque” Andrade apagar o cigarro.
Ofendido, o loiro filho de Manoel Marrocos gritou lá de baixo: “Venha apagar você, se for macho”.
E assim ficou, o padre lá de cima dizendo impropérios e Andrade cá embaixo rebatendo e dando o troco.
Como o padre não desceu de onde estava e Andrade não subiu a rampa, a briga ficou só nisso, nos desaforos, nas ofensas pessoais, no bate-boca.
A segunda briga aconteceu naquela tarde de festividades religiosas no meio da rua.
Celebrava-se a festa da padroeira, a missa era campal, o altar fora improvisado na porta da igreja e a missa cobria todo o pátio da Rua Grande e da Rua Nova.
Frei Fernando dizia palavras em latim, sem deixar, porém, de prestar atenção ao seu derredor. E viu Lula Roberto no maior converseiro com um amigo em frente à budega de João do Guirra.
Enfezado, abandonou o altar e marchou para o local do desrespeito. Aproximou-se de Lula apontando-lhe o dedo e o mandando calar a boca. Lula disse que não calava. O padre deu-lhe um bolachão na cara e Lula retribuiu o bolachão com um soco no nariz de sua reverendíssima.
Botando sangue pelos dois buracos da venta, Frei Fernando o excomungou em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Dizem que foi a partir dessa excomunhão que Lula aumentou sua fama de matador.
Quanto ao padre, contam que ele, ao saber que batera num individuo acostumado a matar gente, pegou o beco e foi embora sem esperar a transferência oficial.
E nunca mais voltou a Princesa.
1 Comentário
Adoro essas histórias kkkkk