Desde a invasão de Princesa o major Feliciano não sorria para ninguém. Não se tratava de promessa, era desgosto. Um homem ser desmoralizado em praça pública como ele foi, com sua filha e netas obrigadas a desfilar no lastro de um caminhão como troféus da Polícia Militar, fora um pouco demais para o velho major, acostumado a mandar e a ser obedecido.
Fazia meses do acontecido e ele continuava trancado no quarto , fazendo as precisões num penico e mandando o empregado descarregar tudo na privada existente no fundo do quintal. Não saía pra comer, pra beber e nem pra espiar o sol. Com o passar do tempo, perdeu a cor vermelha de galego europeu e ganhou um amarelão descolorido que o fazia parecer um papafigo.
Mas não era um bicho, era um major desmoralizado pela Polícia invasora, que passou seis meses comendo fubá de milho nos limites de Tavares e se fizera valente com a fuga do coronel.
A vingança pela comida sem gosto se fez nas pessoas dos parentes mais próximos. A filha do major, casada com um irmão do coronel, foi a primeira a ser presa. Ela e as filhas. Presas e exibidas na carroceria do caminhão de feira, rua acima e rua abaixo, como troféus de guerra conquistados por uma polícia que não ganhara nada no tiro, apenas na traição.
Os soldados obrigaram Joaquim Mariano e Horácio Virgulino a carregarem latas cheias de bosta nas cabeças, da cadeia até a Lagoa. O povo olhava os dois humilhados com as latas de merda, mas ninguém se atrevia a contestar a Polícia. Um velho da Timbaúba teve o topete de encarar um cabo e foi morto a tiros.
O medo só não chegou ao Véi do Pife. Continuou tocando no meio da feira e, ao final de cada número, gritava “Viva o Coronel Zé Pereira!”.
Num desses gritos, foi interpelado pelo soldado valentão:
-Repita, seu velho atrevido!
E o Véi do Pife, segurando o pife e dançando num pé só:
-Quer matar, mate, mas que o homem é bom, é sim senhor!”
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