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A idade das dores

28 de junho de 2018

Sempre digo aos meus amigos mais vividos que não faço muita questão de, no banco, entrar na fila dos chamados clientes privilegiados. Meu amigo Chico, que já foi gerente, está nessa fila, adora entrar nela, embora corra, ao sair, para o salão mais próximo, com um frasco de tinta na bagagem para esconder os cabelos brancos. Aliás, dos meus amigos do dia a dia só conheço dois que não escondem a cor prateada dos anos e assumem a terceira idade com um sorriso de Antonio Fagundes: Ovídio Mendonça e Valter Cartaxo. Talvez confiem no veneno que já não existe, por exemplo, nas veias de Chico Pinto.

Este ano chego aos 67, mas juro que me acho um jovem com o mesmo vigor e fogo dos 18. Por isso estranho quando aparece alguém me lembrando a dura realidade que é estar ingressando na idade das dores de juntas e pimba mole.

Primeiro foi aquela mocinha insistente da Rua Duque de Caxias, que não podia me ver e já corria para entregar-me o papelzinho do banco oferecendo empréstimo aos aposentados do INSS. Era negócio de marcação cerrada. Parecia Dunga no tempo de jogador, quando recebia ordem de Carlos Alberto Parreira para grudar em Maradona.

No começo até que estranhei e amassei o papel diante da moça, jogando-o aos seus pés em sinal de protesto. Mas qual o que! Aí foi que ela continuou, provavelmente achando que o meu chilique era coisa própria da andropausa que tira a esportividade e o bom humor de quem a tem como companheira do dia a dia. Terminei cortando caminho, passei vários dias indo pela General Osório e subindo as escadas do beco das putas, para chegar à Assembléia Legislativa, onde ia  encontrar os meus velhos companheiros de idos e vividos, como João Costa, Antonio Malvino, João Camurça, Jackson Bandeira, Wellington Fodinha, Chico Pinto, Bibiu Lucena, Cristiano Machado, Rubens Nóbrega, Agnaldo Almeida, Zé Maria Fontenelli, Marcone Ferreira, Padre Albeni e outros mais novos e por isso sem necessidade de terem seus nomes aqui divulgados.

Eu até pensei em entrar no time dos que tingem o cabelo, mas recuei, achando que não havia necessidade, que a moça do empréstimo se enganara. Nem mesmo a mijada errada, atingindo o bico do sapato, alterou a minha rotina. Mas sexta-feira…

Parei o carro na General Osório, acendi aquele pisca-pisca que me dá direito a 10 minutos sem pagar o estacionamento, fui ao Terceirão comprar um controle remoto para a minha tv e,nove minutos depois estava de volta, com um “ufa!” bem grande saindo do peito e um ar de vitória estampado na face. Vi, então, preso ao limpador do parabrisa, um papel branco, com letras vermelhas. Apanhei o dito, verifiquei que se tratava de algo escrito pela mocinha da zona azul. Abri o papel e lá estava, num português de fazer inveja, as seguintes observações:

“Veículo em espera…” e, logo abaixo, bem pertinho das letras, um quadro com um “X” marcado, lendo-se nele a palavra que tirou-me as dúvidas e me fez tomar um pileque logo mais a noite, só para esconder o desgosto: “IDOSO”.

 

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