MARCOS PIRES
Quando Dílson Funaro era o super poderoso Ministro da economia (governo Sarney), foi passar o carnaval em Olinda. Por coincidência hospedei-me no mesmo hotel (Quatro rodas); eu e mais uns tantos paraibanos. Logo no primeiro dia consegui que o dono da solitária banca de jornais da região me garantisse por todo o período de carnaval o fornecimento do jornal Folha de São Paulo, aliás um único exemplar que chegava diariamente.
Pois bem; quando eu cheguei à recepção para pegar a chave do apartamento com o jornal na mão, aproximou-se de mim… quem? Quem? Ele, o Ministro Dílson Funaro.
“- Boa tarde, eu não quero incomodá-lo, mas o senhor poderia me emprestar o jornal depois que terminar a leitura? É que eu mandei comprar e me parece que só havia um exemplar”.
Tive uma inspiração.
“- Ministro, por favor. O senhor vai ler o jornal primeiro. Mais tarde eu leio. Estarei na piscina o resto do dia”.
Entreguei o jornal ao Ministro, que agradeceu e fui para a piscina. Lá encontrei com os amigos paraibanos e o comentário principal era a presença do Ministro Funaro no hotel. Eu malandramente nada disse sobre o empréstimo do jornal.
Lá pras tantas, quando a conversa ia mais animada, surgiu o Ministro com a Folha de São Paulo na mão. Fez-se aquele silêncio, todos olhando para Dílson Funaro. Sem que meus amigos notassem, levantei-me e dei a volta por trás da piscina.
O que os meus amigos viram foi o seguinte: o Ministro dirigindo-se a mim e entregando o jornal, seguindo-se um aperto de mão. Mas meus amigos não ouviram nada. E ficaram na maior curiosidade, porque eu segui com o Ministro para o interior do hotel, fui até meu apartamento, deixei o jornal e voltei com a cara mais inocente do mundo para a roda de paraibanos à beira da piscina.
Pensem numa curiosidade.
Todos eles queriam saber o que houve, se eu conhecia o Ministro, se tinha prestigio para liberar verbas da Sudene,… tanta maluquice.
E eu calado, rindo e gozando aqueles momentos de fama. Porém não disse nada. Nos dois dias seguintes a cena repetiu-se em outros ambientes do hotel, porque eu sempre cuidei de deixar a Folha de São Paulo para o Ministro ler antes.
Não preciso dizer que meu prestigio aumentou de forma violenta. Já não pagava nem assinava as contas do restaurante do hotel, do bar da piscina…, era uma maravilha. Pessoas que mal me cumprimentavam aqui na Paraíba já estavam me convidando para futuras festas, prometendo visitas, essas coisas.
Mas como tudo que é bom dura pouco, descobriram a razão do meu “prestigio” com o Ministro Funaro.
Num abrir e fechar de olhos perdi toda a mordomia, voltei a pagar as contas, levei rabissaca de quem até pouco tempo antes me chamava para passeios de lancha, jantares e bailes.
Extrai duas lições dali: 1- você só vale para algumas pessoas enquanto puder lhes dar algo e; 2- algumas pessoas se acham importantes porque andam com gente rica ou importante, como se riqueza e poder fossem doença de pele, transmitindo-se pelo contato
Eu, hem!
1 Comentário
ACREDITO NA EXPLICAÇÃO DE FREUD, SOBRE ESSE INFRATIPO DE HUMANÓIDE PSICOLÓGICO QUE QUER CONTRAIR O QUE JULGA SER QUALDADES ALHEIAS, VIA OSMOSE, OU, AO MENOS OSTENTAR A APARENTE INTIMIDADE, COM A FINALIDADE DE SE MOSTRAR SEMELHANTE COM OS “GRANDES”, PELA DEMONSTRAÇÃO DE AFINIDADES APARENTES.