Por GILBERTO CARNEIRO
NUMA tarde chuvosa de sábado assistia programas enfadonhos de entretenimento na TV quando me chamou atenção um comercial da Volkswagen em que a magnífica cantora Elis Regina é “revivida” pela Inteligência Artificial – IA, e canta em dueto com sua filha, Maria Rita.
E a minha primeira reação foi dizer à minha esposa que estava ao meu lado: – “pô, sou fá de Elis Regina, mas detesto carros da Volkswagen”.
E logo vieram os questionamentos: afinal, o comercial avançou além de limites éticos? Do ponto de vista das relações de consumo, vejo um grande problema: Elis não foi nem poderia ter sido consultada sobre seu interesse em participar deste comercial, concordando com a opinião de Maria Inês Dolci, advogada especializada em relações consumeristas. Logo, o consumidor é induzido a erro, julgando que a cantora tivesse relação próxima com aquela marca e modelo de veículo.
É certo que do ponto de vista artístico, ver e ouvir Elis Regina cantar em dueto com a filha, também grande cantora, é bonito e emocionante. Mas não é apenas uma homenagem. Obviamente, é um anúncio com o interesse de aumentar as vendas de um modelo de veículo.
E os defensores apressados da nova tecnologia argumentarão que a família autorizou o uso da imagem e da voz da cantora. Sim, é verdade. Mas isso não significa que concordasse com isso. E a discussão nem é essa. Tratamos aqui de como preservar, após a morte, a imagem de personalidades em várias áreas artísticas, culturais e esportivas.
É difícil aceitar que se use a imagem e a voz de alguém para fins comerciais sem sua expressa autorização. Assim como também não é correto que crianças participem de publicidade, pelo fato de não terem, ainda, idade para avaliar se recomendariam ou não aquele produto ou serviço.
De todo jeito, enxerguemos o lado bom nesta polêmica despertando para o fato de estar ocorrendo dois movimentos em sentidos contrários: o uso da IA avançando rapidamente e a omissão do Congresso Nacional em debater e aprovar uma legislação específica sobre este fenômeno tecnológico.
Portanto, a constatação é que se não acelerarem a criação do Marco da Inteligência Artificial, teremos cada vez mais situações como a que envolve a maior cantora da história do Brasil. E tudo vai ficar ainda mais complicado com a evolução da Inteligência Artificial dominando as relações sociais, seja no campo profissional ou pessoal.
Talvez a sociedade ainda não tenha despertado para os perigos subjacentes desta tecnologia. E há uma outra armadilha, mais grave do que manipular o livre convencimento do consumidor: a possibilidade da manipulação da voz de uma pessoa para fins criminosos.
Eu próprio tento provar na justiça que a minha voz, em uma gravação, foi alterada e manipulada para inserir e contextualizar palavras e frases que não as pronunciei. O estrago causado à minha reputação jamais será reparado integralmente, mas dúvidas não tenho que provarei a farsa, a manipulação e adulteração da minha voz no contexto da gravação. Quem viver verá.
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HÁ UM DUETO DE NAT KING COOLE COM A FILHA COM, SOMENTE REPERCUSÕES POSITIVAS. EM RELAÇÃO A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, DIGO: NÃO É INTELIGENTE PORQUE INTELIGÊNCIA NÃO PODE SER ARTIFICIAL, BASTA VERIFICAR AS DEFINIÇÕES DICIONARIZADAS E O CONTEÚDO ETIMOLÓGICO, DESDE SEU “PRINCÍPIO ESPIRITUAL E ABSTRATO” ET CAETERA …