FRUTUOSO CHAVES
Todos lembramos, certamente, do conselho para fazer do limão uma limonada. Ou seja, para fazer bom proveito dos males em benefício da satisfação pessoal, ou social.
O corona vírus que então azeda a existência da raça humana oferece a chance da remissão de muitos pecados. O mais grave diz respeito à mercantilização da saúde, por mim entendida como um bem público e, portanto, como ação governamental de extensão planetária.
O vírus em questão – como outros antes dele – expõe o fato de que habitamos a mesma porção de terra, uma ilhazinha de nada perdida no infinito. Dos mais ricos aos mais pobres, sofremos todos, assim espremidos, os mesmos riscos da contaminação, dado o caráter democrático, não discriminatório, de qualquer agente infeccioso.
O corona demonstra que o imenso contingente de miseráveis que habita o planeta requer urgente socorro médico e laboratorial de boa qualidade, o mesmo dispensado à saúde dos abastados. Afinal, relaxar em tais cuidados significar atentar contra a sorte da humanidade.
Acabo de ler que o governo da Espanha iniciou a estatização de hospitais privados a fim de garantir atendimento em pandemias. E lembro que a mesma Espanha, em 2013, levou às ruas multidões de revoltados com a privatização do setor da saúde, até então um orgulho por décadas do povo espanhol.
Nunca se fez tão preciso assistir ao “SICKO”, o primoroso documentário sobre o sistema de saúde pública produzido e dirigido pelo cineasta americano Michael Moore. Está à disposição de todos, via Youtube, com legendas.
O filme começa com a saga de uma jovem mãe solteira sem plano de saúde e sem mais dinheiro para tratamento de um câncer nos Estados Unidos. Humilhada, ela se faz passar por amásia de um amigo canadense, de quem dá o endereço a um hospital do Canadá, a fim de ali obter atendimento médico-hospitalar gratuito e de primeiro mundo.
Outra cena chocante é a de um chefe de família estadunidense que perdera dois dedos numa serra elétrica. Correu ao hospital em busca do reimplante e ouviu do médico: “Escolha um dedo”. O dinheiro de que dispunha era insuficiente para as duas cirurgias.
Moore nos traz os bons exemplos não apenas do Canadá, mas, ainda, da França, do Reino Unido e de Cuba (uma ilha pobre), onde o sistema de saúde é público e de primeiríssima qualidade. E nos fica a lição: o Brasil, definitivamente, copiou o pior dos modelos.
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