opinião

A LIÇÃO DO CORONA

17 de março de 2020

 

FRUTUOSO CHAVES 

 

Todos lembramos, certamente, do conselho para fazer do limão uma limonada. Ou seja, para fazer bom proveito dos males em benefício da satisfação pessoal, ou social.

O corona vírus que então azeda a existência da raça humana oferece a chance da remissão de muitos pecados. O mais grave diz respeito à mercantilização da saúde, por mim entendida como um bem público e, portanto, como ação governamental de extensão planetária.

O vírus em questão – como outros antes dele – expõe o fato de que habitamos a mesma porção de terra, uma ilhazinha de nada perdida no infinito. Dos mais ricos aos mais pobres, sofremos todos, assim espremidos, os mesmos riscos da contaminação, dado o caráter democrático, não discriminatório, de qualquer agente infeccioso.

O corona demonstra que o imenso contingente de miseráveis que habita o planeta requer urgente socorro médico e laboratorial de boa qualidade, o mesmo dispensado à saúde dos abastados. Afinal, relaxar em tais cuidados significar atentar contra a sorte da humanidade.

Acabo de ler que o governo da Espanha iniciou a estatização de hospitais privados a fim de garantir atendimento em pandemias. E lembro que a mesma Espanha, em 2013, levou às ruas multidões de revoltados com a privatização do setor da saúde, até então um orgulho por décadas do povo espanhol.

Nunca se fez tão preciso assistir ao “SICKO”, o primoroso documentário sobre o sistema de saúde pública produzido e dirigido pelo cineasta americano Michael Moore. Está à disposição de todos, via Youtube, com legendas.

O filme começa com a saga de uma jovem mãe solteira sem plano de saúde e sem mais dinheiro para tratamento de um câncer nos Estados Unidos. Humilhada, ela se faz passar por amásia de um amigo canadense, de quem dá o endereço a um hospital do Canadá, a fim de ali obter atendimento médico-hospitalar gratuito e de primeiro mundo.

Outra cena chocante é a de um chefe de família estadunidense que perdera dois dedos numa serra elétrica. Correu ao hospital em busca do reimplante e ouviu do médico: “Escolha um dedo”. O dinheiro de que dispunha era insuficiente para as duas cirurgias.

Moore nos traz os bons exemplos não apenas do Canadá, mas, ainda, da França, do Reino Unido e de Cuba (uma ilha pobre), onde o sistema de saúde é público e de primeiríssima qualidade. E nos fica a lição: o Brasil, definitivamente, copiou o pior dos modelos.

Você pode gostar também

Sem Comentários

Deixar uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.