A logística da execução de Lázaro!

 

Por Tarcísio Neves

Sem querer entrar no mérito da execução de Lázaro, o famigerado assassino do cerrado, a ação policial que culminou na morte do criminoso, foi ridícula, para não dizer cômica.

E o mais cômico em tudo isto foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, famoso latifundiário do Centro-Oeste, dizer que a Polícia de Goiás é a mais preparada do Brasil.

Até agora estou rindo!

Quase trezentos homens, três helicópteros e uma avalanche de viaturas, munidos de fuzis, pistolas, cachorros etc. Os caras foram ridicularizados por um bandido com uma espingarda e uma pistola, segundo eles mesmos informaram.

Para quem tem um pouco de conhecimento de táticas de guerra e sobrevivência nas selvas, comi eu, cujo curso o fiz no Exército, estará rindo até agora da ação da polícia mais preparada do país, segundo Caiado.

O criminoso, sem querer defender de maneira alguma os crimes praticados por ele, só foi pego pelo cansaço, pela exaustão. Com fome, frio, ferido e mancando, o malfeitor foi buscar guarida na casa da ex-mulher.

A competente polícia goiana armou uma tocaia nas cercanias da casa de sua ex-sogra e o cara caiu na armadilha. O mais modesto dos psicanalistas constatariam que ele estava perseguindo a própria morte, porque sabia que, se fosse preso, seria condenado a longos anos de prisão.

Afinal, ele já era foragido desde 2016.

Ao abater o criminoso, a enorme guarnição policial comemorou como se tivesse tomando a ponte do rio Kwait ou derrubado os canhões de Navarone.

A praxe policial logicamente é revidar ao ataque injusto produzido por quem estiver sendo perseguido. Apontar arma e matar inocentes já é uma prática cotidiana policial no Brasil, conforme se vê quase todos os dias no noticiário policial. Imagina o que se esperaria acontecer com aquele bandido perigoso…

Que o diga o policial americano Derek Chauvin, que matou covardemente o segurança afro-americano George Floyd prensando seu pescoço sobre o asfalto quente daquela rua de Minniapolis.

Floyd estava algemado e imobilizado, enquanto o sei algoz pressionava o seu pescoço durante oito minutos. O suficiente para mata-lo por asfixia.

Lázaro, saindo da mata, certamente não seria recebido com um abraço apertado e um beijo molhado, como diria Brian Dennehy, ao perseguir John Rambo, o veterano de guerra in Programado Para Matar.

A cultura do fazer justiça com as próprias mãos não é coisa nova no mundo, tampouco da polícia. O Brasil é um país de analfabetos, e todo mundo sabe disto – tão analfabeto que consegui eleger um Lázaro omissivo presidente da República, e ainda o chamam de mito. Imagina um policial usando um fuzil e uma pistola, o que será capaz de fazer, do alto de seu poder discricionário, de “poder” matar em nome da lei?

A novidade teria sido capturá-lo vivo!

Julgado por Talião, o bandido recebeu o que merecia, não é mesmo? E a paz voltou ao cerrado, ali em Águas Lindas, onde passados quinze dias tomei um vinho saboreando um Surubim, tocando violão, com intervalos efervescentes nos braços de Ilma.

Ainda bem que aquela desgraça não rondou a chácara daquela morena!