A nossa vida de repórter era meio irresponsável. A solteirice talvez contribuísse para isso. Ninguém tinha a preocupação de chegar em casa e dar satisfações à mulher ou enfrentar o supermercado na sexta-feira, tarefa que todo bom casado desempenha com prazer e devoção. Éramos solteiros e como solteiros caíamos na buraqueira, soltos feito passarinhos dando vôos rasantes sobre as águas azuis dos açudes invernosos.
Por isso as farras nas horas de folga e, dentro das farras, as saudáveis brigas, brigas com cheiro de romantismo, trocas de tapas e bofetes inocentes, que só doíam na hora. E quantas brigas aconteceram! Naquela boca de noite, depois de um sábado inteiro bebendo o uísque do deputado Fernando Milanez – recém eleito Presidente da Assembléia -, fizemos uma parada estratégica no Woodstock, o Bar da Viúva administrado por Chico, seu filho mais novo, ali no cruzamento da Almeida Barreto com a Rodrigues de Aquino. Tudo caminhava na maresia de fim de festa quando Chico Pinto avistou um colega de faculdade que bebia numa mesa afastada com colegas de movimento estudantil. Levantou-se de onde estava e foi ao encontro dele cobrar um livro que emprestara. Discutiram algumas coisas para as bandas de lá e partiram logo para os finalmente. As tapas e ponta-pés levantaram as cadeiras de plástico do bar de Chico. Fui até lá apartar a briga, segurei nos braços do brigão, pedindo calma e ele, em resposta, meteu o joelho no meu ovo esquerdo, o de estimação. Aí não prestou não. Entrei na briga e os dois grupos se engalfinharam numa verdadeira guerra, para desespero de Chico, que implorava, com as mãos na cabeça: -Não quebrem meu bar! Júlio Santana, que tinha ido ao banheiro, chegou atarantado e deu um tabefe no queixo do garçom, derrubando-o Djalma Góes pegou a sua Yasshica caixão e a quebrou na cabeça do vendedor de amendoim, achando-o parecido com o cantor Chico César, que na época formava no time dos comunistas. No final, todos se salvaram, restando apenas a quebradeira do Woodstock e o desespero do proprietário. Nossa turma, por certo, nunca tomara aula de briga com o radialista Marconi Edson, o popular Chapéu de Couro, que brigava toda semana e, embora apanhasse, tinha o hábito de arrancar um pedaço do adversário com uma dentada. Chamavam-no de “dente de aço”, por causa da ferocidade com que mordia os contendores. Muitos ficaram aleijados com as mordidas de Marconi. Naquela tarde de jogo no Almeidão, Chapéu de Couro chegou para assistir a partida entre Botafogo e Auto Esporte, levando a mulher a tira-colo. Nem bem adentrou ao portão principal, foi cercado pelos gorilas da Federação, putos da vida com as críticas que ele vinha fazendo na rádio a FRP e, sem meias palavras, passaram a bater nele. Ao primeiro bofete, Marconi Edson caiu no chão e começou a apanhar, a ser pisado, maltratado. Naquela confusão, deu de garra da primeira perna que chegou ao seu alcance, agarrou-a com força e aplicou-lhe a famosa dentada. Foi uma dentada longa, forte e profunda, que arrancou o pedaço. E para que o mordido mais tarde não inventasse de aproveitar a parte arrancada numa possível cirurgia plástica, Chapéu engoliu a carne sem mastigar, chega o sangue ficou escorrendo pelo canto da boca. Apartada a contenda, levantou-se, sacudiu a poeira e somente então deu pela falta da mulher. Correu os olhos e a encontrou sentada no chão, gemendo alto e segurando a batata da perna ensangüentada, com aquele buraco provocado pela mordida do marido. |
8 Comentários
Se essa estória fossem contada no inicio do mês, lhe garanto, que a mulher do shopping que perdeu a ponta dedo, não teria ido ao encontro da “outra”.
Cuidado com Ronaldinho Cunha Lima , vai levar uma surra.
De cu
Sebastião, o nome de “Chapéu de Couro” não era MARCONI e sim MARCÔNIO. E essa sua estória é mentirosa. Nós, familiares, sabemos que quando ele bebia, se metia em muita confusão e realmente foi muitas vezes agredido, porque embriagado não podia se defender. Mas, nunca mordeu a perna da esposa nem tampouco levou, em momento algum a digníssima mãe de seus filhos para campo de futebol. Você foi muito infeliz, inventando estória e deixando a família de MARCÔNIO triste. Respeito é bom e nós gostamos.
Peço desculpas à família, não quis magoar. Mas esse episódio comentei muitas vezes com Chapéu e rimos muito. Éramos amigos.
Olá desculpa mas vc é familiar dele? N te conheço. Em relação a levar esposas ele teve 3 no decorrer da vida e sim ele qnd casado levava elas aos locais. Enfim. Tião querido, retire seu pedido de desculpa, eu sim sou familiar dele sou FILHA e sim essas coisas ocorriam e nós morremos de rir lendo.
No duelo vai ter plantei? Caso positivo é esse uma cadeira pra mim na primeira fila
Que saudades meu pai amado