Havia casado só com a cara e a coragem, salário magro que mal dava para me manter, não tinha casa própria, estava na pindaíba. O jornal A União, que me empregara desde a minha chegada a João Pessoa, estava sob a direção de Nathanael Alves e Gonzaga Rodrigues. Nathanael era o presidente, Gonzaga o diretor técnico.
Eu conhecia Nathanael pelas colunas que ele escrevia em O Norte. Texto bonito, enxuto, direto, impactante, coisa de gênio. Por isso estranhei quando me deparei com aquele gênio repleto de simplicidade, quase tímido, olhar cheio de ternura, fala mansa, sem ostentação.
Mas o que mais falou fundo no meu coração foi a sua resposta ao meu pedido de vale para completar o dinheiro da feira. Acostumado aos diretores que liberavam o vale depois de muito choro e grosseiras negativas, vi o presidente tirar o talão de cheque pessoal do bolso, preenchê-lo e me entregar com a recomendação:
– Vá, faça sua feira, não precisa pagar.
Era um cheque gordo, não lembro o valor mas recordo que deu pra fazer a feira e sobrar para o aluguel.
É desse Nathanael que lembro quando ouço Chico Pinto protestar contra o esquecimento a que está relegado um dos maiores gênios da crônica de nossa terra.
Ninguém o resgata, ninguém se presta a reeditar seus livros, até parece que não existiu.
E ele existiu.
Existiu para nós, seus seguidores. E existiu para a Paraíba que lia seus textos. E mais ainda para as figuras importantes que frequentavam sua varanda em noites de tertúlias.
Falta apenas uma Academia de Letras da vida ou um editor de livros se disporem a fazer um resgate da obra desse valoroso paraibano de Arara.
Porque, se ninguém aparecer para fazer isso, eu e Chico Pinto faremos.
Veja, abaixo, um texto de “O Pássaro e a Bala”, uma das mais conhecidas crônicas de Nathanael:
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APOIADO, TIÃO!
EM ARARA HÁ O HOSPITAL NATANAEL ALVES.