Por GILBERTO CARNEIRO
PARA aqueles que leem esta coluna dominical, uma pergunta: Você tem FÉ?
Relata a história que um personagem russo de grande importância para o mundo viveu na antiga União Soviética, no século XX. O nome dele era Leon TROTSKI, um dos revolucionários responsáveis pelo êxito da revolução bolchevique que retirou do poder o Czar russo no ano de 1917 e comandou o exército vermelho, um dos maiores do mundo.
Contudo, pouco tempo depois de concluída a Revolução Russa, Lênin, considerado o mentor da Revolução, morreu. Seu desejo era que assumisse o poder em seu lugar seu amigo Trotski, porém Stalin, adversário interno de Trotski, deu um golpe, assumiu o poder e exilou Trotski para a Sibéria.
Acompanhado de sua cachorra, Maya, Trotski passou a viver no meio do nada, em uma cabana, numa região que para qualquer canto que direcionasse o olhar vislumbrava uma única cor: a brancura que chegava a causar uma vertigem angustiante.
Desesperado, vivendo em meio ao nada, definhava. A única pessoa que tinha contato era um soldado russo, de poucas palavras, responsável por trazer-lhe mantimentos. Trotski estava enlouquecendo. Um certo dia, não aguentando a pressão psicológica que o isolamento lhe ocasionava, resolveu, acompanhado da sua cachorra, sair da cabana numa temperatura de frio glacial de -26 ‘c. Não saiu com esta intenção, porém estava prestes a cometer suicídio, pois a exposição àquela temperatura lhe causaria uma hipotermia capaz de levar ao óbito.
A certeza da derrota oprimia-lhe o peito e asfixiava-o, como se a pata de um cavalo o esmagasse. Por isso, agarrou as polainas e as galochas de feltro, apertou o cachecol em volta do pescoço e saiu ao encontro do vento, da neve e da manhã cinzenta. A tempestade que caía não parecia ter a intenção de diminuir e, ao entrar nela, sentiu como o seu corpo e a sua alma mergulhavam no gelo e na bruma, enquanto o ar lhe feria a pele do rosto. Deu alguns passos e avistou o sopé da cordilheira Tian Shan, e foi como se tivesse abraçado a nuvem branca até se fundir nela. Assobiou, exigindo a presença de Maya, e sentiu-se aliviado quando a cadela se aproximou. Apoiando a mão na cabeça do animal, reparou como a neve começava a cobri-lo. Se permanecesse por ali dez ou quinze minutos se transformaria numa massa gelada e o coração pararia, apesar dos casacos. Poderia ser uma boa solução, pensou. Então seus olhos distinguiram no branco da neve uma mancha escura. Aproximou-se e percebeu tratar-se de uma PEDRA.
Contemplou aquele volume escuro por alguns segundos, a única coisa que se distinguia da neve naquele quadrante. Então compreendeu por que os habitantes daquele rincão áspero do mundo insistiam, desde a origem dos tempos, em adorar pedras. De repente, o tempo que se encontrava naquele lugar, envolto no branco absoluto onde se perdiam noções de espaço e distância, tinham lhe servido para descobrir a futilidade de todos os orgulhos humanos e a dimensão exata de sua insignificância cósmica diante do poder essencial do eterno. As cortinas de neve que caíam de um céu de onde haviam desaparecido os vestígios do sol e ameaçavam devorar tudo o que se atrevesse a desafiar a sua persistência demolidora revelavam-se com uma força indomável, que nenhum homem pode enfrentar. É então que o aparecimento de uma árvore, o perfil de uma montanha, a corrente gelada de um rio ou uma simples rocha no meio da estepe se transmutam em algo de tal forma notável que se tornam objeto de veneração. Os nativos daqueles desertos longínquos glorificavam as pedras porque asseguravam que na sua capacidade de resistência se expressava uma força, presa para sempre em seu interior, que era fruto de uma vontade eterna. E foi aí, nesta pedra, que Trotski encontrou forças para resistir. A partir de então fazia sua visitação diária àquela pedra, e isso foi o que o possibilitou sobreviver. Aquele pedaço de rochedo restaurou sua FÉ.
Um detalhe importante. Existem versões que relatam que até o episódio da vivência com a pedra, Trotski seria ateu, no entanto, se convenceu que aquela pedra era a presença de Deus que lhe apareceu para lhe dar as forças necessárias para sobreviver.
Em meio à inquietação do cotidiano é comum as dificuldades e os problemas afetar nossa resiliência. Existem situações que achamos estar em um labirinto, em uma espécie de “beco sem saída”. São nesses momentos difíceis que precisamos fortalecer a nossa fé, encontrar a nossa “pedra” que nos mostrará o caminho para sairmos do labirinto em que nos encontramos.
A FÉ se traduz na música do Rappa, na melodia “Anjos:   
“Para quem tem fé, a vida nunca tem fim.
Te mostro um trecho;
Uma passagem de um livro antigo,
Pra te provar e mostrar que a vida é linda,
Dura, sofrida, carente em qualquer continente,
Mas boa de se viver …em qualquer lugar”
Stalin tinha convicção que Trotski não suportaria o exílio e tiraria a própria vida. Não foi o que aconteceu. Trotski não apenas se manteve vivo como teve forças para continuar escrevendo, defendendo o socialismo científico idealizado por Marx e Engels implantado na Rússia de 1917 por intermédio da revolução liderada por Lenin e Trotski, tornando a Rússia o primeiro país a adotar esse sistema sócioeconômico que defende o bem comum com a redução das desigualdades sociais através da redistribuição de riquezas e que não se irradiou da antiga União Soviética para toda a Europa devido a ambição e a traição de Stalin, que passou a perseguir implacavelmente antigos camaradas e, na sua covardia, fez um infiltrado se aproximar de Trotski, em seu exílio no México, fingir ser seu amigo, para em um momento de baixa da guarda por parte de Trotski, deferir-lhe uma machadada na cabeça e partir seu crânio ao meio.
1 Comentário
Nossa Senhora. !!!! Misericórdia, Senhor Jesús Cristo !!!! Realmente, os comunistas são cruéis. De qualquer forma, parabenizo o autor pelo texto.