Miguel Lucena*
Há 33 anos, idade de Cristo, fui escalado para fazer a cobertura jornalística da tradicional malhação do Judas, na Praça dos Motoristas, em Jaguaribe, bairro tradicional de João Pessoa, capital da Paraíba.
A malhação ocorria à meia-noite, após a missa da ressurreição, na Igreja do Rosário. Fui no fusca bege do jornal, acompanhado do fotógrafo Medeiros e do motorista Cocada, com dinheiro apenas para um pão doce e um guaraná Sanhauá.
Passei na casa do Tenente Lucena, importante historiador do bairro, e foi lá que Medeiros, um galego de 1,80m de altura, tomou quatro copos de vinho Imperial.
Saímos para entrevistar os moradores do bairro sobre o significado da malhação do Judas.
Medeiros, meio areado por causa do vinho, foi procurar um melhor ângulo para as fotografias e se posicionou por trás do mastro do Judas, quando sentiu uma pancada no peito. Era o impacto de uma banda de tijolo. O fotógrafo se levantou virado na gota, com os olhos esbugalhados, e saiu metendo a máquina em quem encontrava pela frente, derrubou um vendedor de rolete de cana e terminou caindo no carro de mão do pão doce, após levar uma rasteira do Galego da Vila.
Na segunda-feira pela manhã, não aceitaram que eu contasse essa história, o fato jornalístico digno de nota. Então, inventei que o tijolo acertou o peito do Judas, que ficou irado e provocou uma briga generalizada na festa.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia do DF, jornalista e escritor.
1 Comentário
Semelhante fato é o cara tá no Maracanã de antigamente e levar uma garrafada de mijo, sem saber de onde vinha. Pobre medeiros. Kkkk