Miguel Lucena
É impossível cobrar paciência de quem está com fome, precisando de gás para acender o fogo, de feijão e arroz para a panela. Milhões vivem assim e são as presas mais fáceis do sistema político e eleitoral montado no Brasil.
Vejo servidores públicos em desespero, alguns até se matando, por causa de dívidas, e avalio como deve ser o dia a dia de quem não tem nem o que comer. Como ter fé em palavras quando o pensamento está voltado para um pão?
Outros, no entanto, podem escolher, mas preferem o bote fácil do momento. Agarram-se com o que lhes é oferecido, não têm paciência para montar um projeto e vencer. Dali, daquele instante, não passa, até que chegue uma nova eleição.
Conheço muita gente assim. Essas pessoas declaram ter admiração pelo posicionamento de determinada personalidade, mas, como precisam sobreviver de alguma forma, são obrigadas a apoiar quem paga pelo trabalho político temporário.
Não deixa de ser uma profissão, apesar de não ser permanente, tendo em vista que as eleições são temporárias. Muitos políticos, após o pleito, preferem aproveitar os voluntários, aqueles que não cobram salários, apenas pequenas ajudas de custo para gasolina e lanche.
Ouvem-se queixas generalizadas de que uns e outros foram abandonados após as eleições, no que os políticos profissionais rebatem com o argumento de que pagaram pelo serviço.
Está chegando a hora de mudar certos costumes políticos, como o de transformar a política em um negócio cujo investimento é recuperado do jeito escandaloso e trágico que conhecemos.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
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