Por GILBERTO CARNEIRO
NÃO são raras as vezes em que nos deparamos com situações adversas, momentos difíceis em que aquela voz distante faz ecoar a frase que cansamos de repetir: “não vai dar certo”.
As dificuldades para enxergar o que há de positivo nas situações em que vivemos é porque nossa tendência é nos concentrarmos mais nos problemas do que nas soluções, alimentarmos um estilo emocional pouco resiliente e agirmos sempre numa perspectiva de pessimismo exacerbado.
Criada pela escritora Eleonor H. Porter em 1913, no livro clássico “Poliana” que encantou gerações, a personagem principal, uma menina de 11 anos de nome Poliana consegue ver o lado bom em todas as situações e acaba se tornando o símbolo do otimismo, para o bem ou para o mal. Para as pessoas que odeiam as segundas-feiras, por exemplo, ela ensina: “a segunda-feira é o dia mais distante da próxima segunda-feira, por isso há razões para ficar contente com ela”.
Algumas pessoas são naturalmente positivas. Para elas isso vem fácil, pensam no lado bom das coisas sem esforços. Mas outras, não. Atualmente, tornou-se comum o pessimismo dominar o comportamento dos indivíduos. O pessimista é um otimista da desgraça. Pensa, como cunhou o memorável Augusto dos Anjos, “que a alegria é uma doença e que a tristeza sua única saúde”.
Todavia, precisamos entender, em primeiro lugar, que ser otimista não é sinônimo de ignorar a realidade, mas principalmente entender os sentimentos das pessoas, não nos portarmos como sendo a palmatória do mundo, paladinos da moral, que agem de dedo em riste, apontando e julgando os outros, esquecendo da própria trave que está no seu olho. Pior. Sofrem também de um egocentrismo sufocante, pelo qual somente admitem considerar algo positivo se forem responsáveis diretos pelo bem que se analisa. Em não sendo, invertem os sentidos e disparam uma carga de negatividade tamanha que são capazes de decretar o fim do mundo durante um estonteante pôr do sol na Praia do Jacaré.
Por isso geralmente são pessoas de comportamentos intolerantes. A neurociência, afirma o neurocientista americano Richard Davidson, autor de “O Estilo Emocional do Cérebro” , considera que “as pessoas pouco resilientes têm dificuldades em se livrar de sentimentos de raiva, tristeza, ou qualquer emoção negativa após perdas, adversidades, reveses ou outros tipos de aborrecimentos. Além de se recuperar mais rápido de adversidades, os otimistas têm a capacidade de manter sensações positivas por períodos prolongados de tempo”.
O futuro pode não ser algo concreto ainda, mas a imaginação é poderosa na possibilidade de criar mundos novos. E quando ele existe no imaginário coletivo, há muito mais poder. Se você foca só no negativo, perde a chance de gerar o novo. Mas sabemos que o otimismo é consequência; sem esperança ele é vazio. E a esperança é o contato que sua imaginação tem com a realidade das possibilidades. A esperança é a matéria prima do otimismo” -declarou a jornalista americana Judy Rodgers.
Há um trecho do livro de Poliana que relata o fato dela gostar de correr e brincar na rua e ficar feliz sempre que o dia está lindo. Mas em um dia chuvoso, ela também dá um jeito de ficar contente: o motivo é que não é assim todos os dias, e podemos ficar felizes porque nos outros dias faz sol. Em uma crise, é sempre bom lembrar: “isso vai passar”.
Espero que você, caro leitor, se porte como Poliana. Faz bem para a nossa autoestima, matéria e espirito.
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