Encontrei meu amigo Sete Couros na esquina do antigo Hotel Tropicana. Ele estava inconsolável, bufava pelas ventas, gesticulava, apontava para o prédio da Câmara Municipal e desafiava: “Venham me proibir de cagar no banheiro lá de casa!”, e de vez em quando coçava o cabo da faca que carregava perto do rego da bunda, costume antigo que trouxe do sertão.
Antes mesmo que eu perguntasse o motivo de tanta revolta, contou-me, falando alto:
– Aquele tal de vereador Coronel Sobreira acaba de aprovar um projeto de lei proibindo o banheiro unissex.
E arrematava:
– Desde quando banheiro tem sexo? Lá em casa só tem um pra todo mundo. Quem vai me dar dinheiro pra construir um só pra Raimunda e as meninas?
Eu escutei sem acreditar também.
Quer dizer que agora vão disciplinar os mijadores?
Porque, até onde me é dado saber, não se tem notícia de homem fazendo as necessidades ao lado das mulheres, uns se espremendo olhando pros outros e apostando quem bota o tolete mais formoso ou tem o jato mais forte.
E Sete Couros botando mais lenha na fogueira:
– Sabe, Tuta, um dia desses entrei num banheiro errado e dei de cara com um inhame daqueles fornidos despejado por uma madame toda lorde. Aquilo não é cu de mulher nem na China.
Bem, nesse mérito eu não entro. Cada um sabe do que é capaz. Só acho que perder tempo com uma besteira dessas é confessar que ou não tem criatividade ou vive de catar manchete em jornais e blogs.
Além de causar problemas a um amigo como Sete Couros, que precisou tirar um empréstimo consignado para fazer a privada reclamada pela família há séculos e agora se vê intimado a se endividar mais ainda para construir a outra.
A uma dúvida de Sete Couros, porém, não pude responder. Sugeri que a levasse diretamente à Câmara Municipal:
– Será que vão deixar a gente cagar no mato?
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