MARCOS PIRES
Um americano bilionário, desses que somente os EUA produzem aos montes, resolveu vender todas as suas empresas e aposentar-se. Depois de muito pesquisar, escolheu uma pequena praia na costa do México como sua morada definitiva. Ali a temperatura era suave e constante o ano inteiro, poucas chuvas e um mar espetacular. Tratava-se de uma pequena aldeia de pescadores com poucas casas e uns cem habitantes, porém servida de luz, água e esgoto. O americano fez construir uma mansão espetacular, dotando-a de todos os confortos da mais moderna tecnologia e foi enfim usufruir o seu merecido descanso. Como era muito comunicativo, logo fez amizade com os locais, principalmente com os pescadores, com quem passava longas horas conversando.
Numa noite belíssima, quando embalava-se numa rede armada entre dois coqueiros à beira mar, observando a enorme lua cheia que nascia no horizonte, viu passar o pescador mais antigo da aldeia, uma espécie de líder local. Chamou-o e com ele começou a conversar, enquanto compartilhavam uma garrafa de uísque.
Paternal, o bilionário começou a dar conselhos ao pescador.
“- Paco, eu já observei que vocês aqui só pescam duas vezes por semana e por poucas horas. No entanto pescam muitas lagostas, vários quilos de camarão e aquele delicioso peixe Pargo. Por que vocês pescam somente nesse pouco tempo? Eu tenho certeza de que se você orientasse seu pessoal para pescarem todos os dias e por muitas horas, logo, logo vocês dominariam a pesca em toda a região.”
“- E é, Mister? Quer dizer que se a gente fizesse isso, se a gente saísse todos os dias de madrugada e voltasse somente à noite, sem descansar aos sábados e domingos, nós seriamos os bacanas do pedaço?”
“- Claro, meu amigo Paco. E não é só isso. Se vocês persistissem, se continuassem trabalhando todos os dias de manhã à noite, sem descanso, depois de dois anos seriam os reis da pesca do México. Com certeza estariam comandando a pesca da América do Sul e Central em menos de quinze anos.”
“- Mas Mister, e o que é que ia acontecer conosco depois?”
“Iriam ganhar muito dinheiro, Paco. Como você é ignorante, eu vou explicar; vocês iriam ganhar tanto dinheiro que você poderia ir morar em uma cobertura na quinta avenida, em Nova Iorque. Já pensou, sair dessa praia miserável, desse país sub desenvolvido, e ser morador da quinta avenida?”
“- Mister; isso parece um sonho. Que beleza. E depois? E depois, o que eu faria?”
“- Ah, Paco; depois você estaria tão rico, mas tão rico, que poderia tomar conta do mercado de pescado no mundo. Já pensou; Paco, o rei do peixe!”
“- Bom demais, Mister. E depois, quando eu for milionário, quando eu for o rei do peixe no mundo, o que é que vou ser, o que vou poder fazer?”
“- Essa é a melhor parte, Paco. Depois disso tudo, de tantos anos trabalhados todos os dias, desde a madruga e até a noite, sem férias nem descanso, você faria como eu fiz; ia se aposentar e morar numa praia como esta, sem preocupação com mais nada, a não ser acordar olhando para esse mar deslumbrante, pescar quando lhe conviesse e dormir embaixo desse céu fantástico, salpicado de estrelas e iluminado por essa lua maravilhosa. Eu lhe garanto que nada no mundo se compara a isso.”
“- Mas Mister, isso eu já faço, sem precisão de tanta trabalheira!”
2 Comentários
Simples, objetivo e sábio
Essa panemia está fazendo muita gente refletir. Questionando objetivos. Quebrando paradigmas.
Nenhum filósofo foi capaz de tamanha proeza, em tão pouco tempo, e em tão grande escala.
Esse dr.corona é de matar qualquer um. Visceral, e literalmente.
Boas vindas ao “novo normal”!