opinião

A tragédia de Santos Dumont

3 de dezembro de 2023

Marcos Pires

Preciso parar com essa mania de revisitar as biografias dos meus ídolos. Mais uma vez me surpreendo com a quantidade de informações falsas ou ao menos muito duvidosas que nos dão nas escolas. Até agora eu tinha Santos Dumont como o pai da aviação e não se falava mais nisso. Era uma das referências do Brasil.

Não é bem assim. Do que pesquisei consegui confirmar que ele era filho de um dos maiores cafeicultores do mundo quando o grão negro era a nossa maior riqueza. Montado nessa grana foi morar em Paris no começo do século 20, frequentando cafés e bulevares da cidade luz. Privava da amizade dos milionários e da realeza. Vivia-se a Belle Époque.

O brasileirinho encantava Paris com seus balões. Era baixinho sim, encomendava seus ternos muito bem cortados sempre com tecidos de riscas verticais, que lhe davam a impressão de ser mais alto do que era.

Aqui pra nós, ser famoso na Paris daquele tempo não era para qualquer um.

Pois muito que bem, aqui começa o busílis. Segundo os registros oficiais Santos Dumont fez um voo controlado num objeto mais pesado que o ar em 12 de novembro de 1906. Guardem a data. Voou 220 metros. Ora, já em 1903 os irmãos Wright faziam pequenos voos em seu aparelho. Naquele ano Alberto nem sonhava em abandonar os balões. A falta de maior divulgação da invenção dos irmãos deveu-se simplesmente ao fato dos americanos terem medo que sua invenção fosse pirateada. Em 1905 o seu Flyer III voou durante 39 minutos, percorrendo quase 40 kms. Isso um ano antes do 14 bis dar aqueles pulinhos em meros 220 metros. Testemunhas acreditadas assistiram. Há mais um detalhe, a patente deles, requerida em 1903, saiu em maio de 1906, ainda antes do voo do 14 bis.

Convencido que Santos Dumont não era o pai da aviação restava-me um consolo; ele inventara o relógio de pulso, numa encomenda feita ao seu amigo Cartier, para facilitar a leitura das horas enquanto manobrava balões. Nada disso. A rainha Elizabeth I usava um no ano 1.600 e a empresa Patek Philippe relançou a peça em 1868.

Quando os franceses descobriram a história dos irmãos Wright esqueceram o brasileiro, que voltou ao Brasil amargurado. “-Foi uma experiência penosa para mim ver… a ingratidão daqueles que há pouco tempo me cobriam de gloria”.

Em 1932 cometeu suicídio num hotel do Guarujá. Enforcou-se usando 2 gravatas vermelhas.

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