A última entrevista de Cícero Bezerra, o famoso Bandoleiro do Norte

Fui o último e talvez o único jornalista a entrevistar Cícero Bezerra, o famoso Bandoleiro do Norte, homem de confiança do coronel Zé Pereira e um dos mais destacados comandantes dos defensores da cidade sitiada em 1930.

A entrevista aconteceu no dia 18 de novembro de 1980.

Durante mais de uma hora conversamos e ele relembrou os tempos em que deixou de lado família, fazendas e gados, para pegar no rifle e brigar ao lado do coronel. Lembrou, também, que se tornou amigo do coronel Manoel Benício, depois que o botou pra correr.

Alguns anos depois da entrevista, morria de velhice na sua bela casa no Alto dos Bezerra.

Na abertura da matéria que A Uniãso publicou eu dizia: “Tudo na casa possui um pouco das lembranças de 30. Os retratos na parede, os rifles pendurados no armador, os dois “bornais” ainda cheios de balas enferrujadas, compõem o mundo daquele que, aos 36 anos, se tornou conhecido no Nordeste inteiro pela sua coragem e destemor. “Nunca quis entrar para o bando de Lampião, porque queria formar o meu próprio. Entre eu e ele eu não via “diferença”, disse ele, quando indagado sobre os motivos pelos quais não se tornou um cangaceiro a serviço do ex-rei do cangaço.

A entrevista:

“Quantos o senhor matou, Seu Cícero?” – Olha, menino, contar num dava pra fazer, pois eu mandava as balas e não sabia em quem elas pegavam”. Seu Cícero Bezerra, 86 anos, o famoso “bandoleiro do Nordeste”, braço direito de José Pereira Lima, em 1930, e o único que foi capaz de colocar o então já famoso tenente Manoel Benício para correr, é hoje, em Princesa Isabel, o último remanescente de 1930. O fazendeiro que abandonou o trabalho, o gado e a agricultura para pegar no rifle, cair nas caatingas e brigar com os soldados do presidente joão Pessoa, na ânsia de transformar Princesa em território livre, passa os dias, agora, relembrando o passado e olhando Princesa da varanda de sua casa, localizada no Alto dos Bezerra.

Quando os repórteres subiram a ladeira poeirenta que dá acesso à casa grande, o velho ex-bandoleiro estava tirando a soneca do almoço. No entanto, quando soube que havia jornalistas lhe esperando, e, principalmente, um fotógrafo, imediatamente abandonou a rede e, com uma disposição incomum para os seus 86 anos, chegou ao terraço, chapéu na cabeça, um sorriso espalhando ainda mais o seu vasto bigode e foi logo adiantando a entrevista.

Começou lembrando a visita que João Pessoa fez a Princesa, quando ainda era amigo do coronel José Pereira. “Ah! Quando João Pessoa chegou aqui, todo mundo botou o distintivo vermelho da Aliança Liberal”. A luta, no entender dele, começou “porque João Pessoa fechou um jornal dos Pessoa de Queiroz, que eram amigos do coronel”.

-Entrei na luta porque gostava dela -, continuou Seu Cícero Bezerra, afirmando em seguida, com ar de heroísmo, que “brigamos seis meses, e, enquanto dos nossos foram mortos apenas 68 homens, deles morreram de monte”.

COMANDANTE GERAL

Ao contrário de João Costa, também conhecido por João Fubá por causa do seu costume de comer fubá três vezes ao dia; Senhor Salviano, Luiz do Triângulo, Manoel Ronco Grosso, Pedro Gavião, João Paulino e Paulino do Saco da Roça, que eram valentes e chefes de grupos, Cícero Bezerra tornou-se comandante geral da tropa.Nem por isso conseguiu evitar que a Polícia queimasse suas propriedades, matasse seu gado e promovesse outros tipos de vingança, por causa de sua atuação à frente dos homens de José Pereira.

Continua amanhã