Marcos Pires
Num sábado à tarde, quando ia à casa do meu filho levar meus netos para o circo, deparei-me com um amigo de infância lá do Miramar que eu não via desde muito tempo (mas que continuava no rol das minhas melhores amizades) sendo levado para uma viatura policial por alguns militares. Estava algemado. Estacionei o carro, desci, me apresentei e comecei a argumentar com a guarnição sobre a possibilidade de relaxar a prisão. O sargento muito gentilmente explicou que o meu amigo estava absolutamente embriagado, recusara-se a pagar a conta do bar onde bebera desde as dez da manhã e ainda vociferava contra tudo e contra todos, chegando mesmo a agredir verbalmente os clientes e ameaçar o dono do bar com uma surra. O bêbado dizia que ninguém teria coragem de prendê-lo porque ele era tampa de Crush. Na verdade ele não usara o termo tampa de Crush e sim um palavrão que me recuso a reproduzir para não deslustrar o domingo dos meus queridos leitores, mas o tal palavrão começava com F, terminava com A e era dissílabo; perceberam?). A guarnição estava passando no local e foi chamada por alguns dos frequentadores do bar.
Portanto, eu pouco ou quase nada poderia fazer a não ser conversar e prometer de um tudo; que meu amigo iria para casa, que jamais repetiria aquela cena, que ele já deveria estar muito arrependido, que pediria desculpas…enfim, promessa é pra ser feita, né?
Na meia hora que eu passei argumentando, meu amigo aquietou-se. Estava trancado na traseira da viatura e não se ouvia nenhum som, dando a crer que dormira. Enfim convenci a autoridade da desnecessidade da prisão. O sargento, ainda relutante, abriu a porta da viatura de onde saiu cambaleante o meu amigo. A alegria pela sua liberdade quase me fez esquecer a raiva que os meus netos estariam sentindo por terem perdido o circo.
Olhei firme para ele e disse das promessas que eu havia feito em seu nome. Ele balançava a cabeça concordando com tudo. Retiraram as algemas e ele deu alguns passos afastando-se de nós. De repente parou, voltou-se e levantou um dos braços. Achei que iria agradecer. Ele olhou para todos nós e enfim focou no sargento. Apontou para a autoridade e disparou: “- Eu não disse que não tinha macho aqui para me prender?”.
Assim fica difícil advogar, né?
3 Comentários
Assim, é “phoda”, Marcos Pires!
E sem honorários, pior ainda.
Depois de tudo isso, deve ter levado uma porrada no pé do ouvido.