Meu pai só saía de casa para o Sindicato que presidia em Princesa. Nas minhas idas, só o via à noite na hora de dormir. Chegava da rua, dava o boa noite e ia me deitar sem perguntar se ele queria conversar, se estava bem, se sentia saudade, essas coisas que os velhos sentem e os novos não percebem.
Nos dias de visita aqui em João Pessoa, passávamos pela casa de Cabral meu sogro. Chegávamos para o almoço. Depois do almoço, a soneca no cimento do terraço e depois cada um seguia para seu destino. Os velhos ficavam em casa dividindo a solidão com as paredes frias e as portas mudas.
Nesses dias de quarentena me descobri a pensar nesse meu povo que já não mais existe. Seu Miguel partiu, dona Emília foi atrás dele, Cabral também se foi e dona Marta, a sogra, seguiu seus passos.
Nossos meninos cresceram, casaram, nos imitaram. Cada um com sua vida e aos dois velhos em que nos transformamos restaram as paredes fritas e as portas mudas.
Claro, com o advento da televisão ao menos podemos ver Faustão em reprises aparecendo como um dia foi, gordinho e redondo, com a cabeleira cobrindo as orelhas e as franjas tapando os olhos. E ainda tem o computador não que existiu para eles.
Não estou reclamando. Apenas acho que fui muito burro ao desprezar momentos que poderia ter desfrutado ao lado dos meus velhos. E aí vem o inevitável desejo: Ah se o tempo voltasse!
4 Comentários
Primoroso texto e belíssima reflexão Tião, me emociono com muitas postagens suas como essa!
Se o tempo voltasse, com certeza, tudo se repetiria por que serias jovem outra vez. Os jovens não têm a sabedoria que só as experiências, e os erros, nos dão.
Verdade.
Também queria que o tempo voltasse.
É triste,Tião. Mas, infelizmente, ou felizmente, o tempo não volta. Voltar para quê? Pra gente repetir tudo de novo. É a vida!