Marcos Pires
Ainda muito garoto eu acompanhava a comitiva do Papai Noel entregando presentes por toda João Pessoa. É que minha mãe, dona da maior loja do Estado, inventou que os pais que comprassem os brinquedos de natal na nossa loja, poderiam marcar uma data para que Papai Noel fosse até suas casas entregar esses presentes.
A infraestrutura da entrega se compunha de um caminhão baú e à frente uma Rural marrom, onde iam o motorista OX, o corneteiro, Papai Noel, eu e alguns outros maloqueiros do Miramar.
Entregar presentes na casa dos ricos era chato; descíamos na porta do casarão, o corneteiro morria de tocar mas só abriam a grade quando usávamos a campainha. Geralmente aparecia uma babá arrastando o filho do rico pelo braço, que quase sempre estava chorando e morrendo de medo daquela farandula. Acreditem, leitores, eu chegava a ter pena daquela criança.
Bom mesmo era entregar presentes no Varjão, Oitizeiro…bairros pobres. Quando nossa equipe aparecia no início da rua com aquelas bocas de som tocando “bate o sino”, era um furdunço. A garotada (com aqueles barrigões de fora, sujos de lama, narizes escorrendo) cercava o caminhão que descia vagarosamente as ladeiras esburacadas.
Ao chegar no endereço a família estava toda na porta da casa. Bastava o corneteiro dar o toque para Papai Noel descer da Rural e a mãe do garoto já chorava. Ao contrário do menino rico com medo, o filho do pobre corria para abraçar Papai Noel. Era uma alegria geral. Entregávamos o presente e a família fazia questão de oferecer um lanche, geralmente bolachas e ki-suco. Nos fundos da casa sempre rolava uma cervejinha para os mais velhos, inclusive para o Papai Noel, que muito prevenido andava com uns canudos para não sujar a barba.
À tardinha já estavam todos “alegres“, e foi num clima assim que terminamos as entregas do dia na Torre, em frente a um bar que servia rabada. A fome nos levou lá e os frequentadores espantaram-se com um Papai Noel entrando no bar. Um dos pinguços locais tentou fazer com o bom velhinho o que fizeram ao Doctor Ray no bar do cuscuz. Estourou uma briga fenomenal, da qual evidentemente saímos vencedores. Aquele Papai Noel era macho todo.
Muito orgulho do meu tio Polari, eterno Papai Noel.
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