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Além de ter a carne saborosa, couro da tilápia agora pode ser usado para reconstruir xoxota; já vai com o cheiro

25 de abril de 2019

Após ter eficácia comprovada no tratamento de queimaduras e na reconstrução vaginal em pacientes com síndrome de Rokitansky e câncer de vagina, a pele de tilápia acaba de ser testada em mais uma importante aplicação medicinal. O material foi utilizado para reconstrução vaginal pós-cirurgia de redesignação sexual de uma paciente trans de Campinas (SP). Trata-se de procedimento inédito no mundo, que abre um novo leque de possibilidades na ginecologia.

A cirurgia ocorreu na terça-feira (23), no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), vinculado à Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O método e todo o know-how para a aplicação da pele de tilápia nesse tipo de intervenção foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará e na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC/UFC), onde a técnica é trabalhada há três anos de forma pioneira pelo Prof. Leonardo Bezerra, do Departamento de Saúde Materno-Infantil, que participou da cirurgia.

Segundo o Prof. Leonardo, também integrante da Pós-Graduação em Cirurgia da UFC, a intervenção cirúrgica transcorreu a contento e sem complicações. A equipe contou com pesquisadores da UNICAMP e da Universidade de São Paulo (USP).

Reportagem completa sobre a conquista, com detalhes do procedimento, pode ser lida na Agência UFC

A paciente em questão já havia sido submetida à cirurgia de redesignação sexual (de homem para mulher). Porém, apresentava um canal vaginal de pequenas proporções, com problemas funcionais, o que ocasionava várias dificuldades.

Imagem: Pele da tilápia tem seu potencial estudado por uma rede de 189 pesquisadores (Foto: Viktor Braga/UFC)Para reverter esse problema, o método hoje mais utilizado consiste em fazer um enxerto com pele retirada de outras partes do corpo, geralmente do intestino, para aumentar a largura e o comprimento do canal. Esse tipo de cirurgia, porém, costuma durar várias horas e tem o inconveniente da necessidade de incisões (cortes), que deixam cicatrizes. O diferencial da cirurgia agora realizada foi refazer o canal vaginal não mais com intestino, mas com pele de tilápia.

Segundo o Prof. Leonardo Bezerra, o grande benefício é a simplicidade da técnica ‒ considerada de mínima invasividade, já que não é preciso fazer incisões abdominais ‒ e também o baixíssimo custo.

O professor destaca a importância do NPDM para as pesquisas e aplicações com pele de tilápia. Por meio do núcleo, a UFC passou a ter o primeiro banco de pele animal do País. Todo o procedimento com a pele de tilápia é feito no NPDM, em parceria com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) do Instituto Dr. José Frota.

PRÓXIMOS PASSOS ‒ Atualmente, a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), da UFC, já utiliza pele de tilápia de forma sistemática em cirurgias de pacientes com síndrome de Rokitansky. Dez mulheres já foram operadas, e algumas delas já estão tendo atividade sexual. O objetivo agora é tentar levar essa pesquisa a outros lugares, beneficiando inicialmente mulheres dos Estados da Bahia, Pará, Pernambuco e São Paulo, por meio de parcerias com universidades desses estados, tornando, assim, o estudo multicêntrico. O trâmite burocrático para essa ampliação está em andamento.

Imagem: A UFC possui o primeiro banco de pele animal do País (Foto: Viktor Braga/UFC)DIVERSIDADE DE APLICAÇÕES ‒ O Prof. Odorico de Moraes, coordenador do NPDM, reitera que essa é mais uma conquista alcançada nas pesquisas com pele de tilápia, desta vez contribuindo para reduzir ou eliminar uma limitação no campo da ginecologia. “A pele de tilápia tem um potencial enorme em vários campos da medicina. Hoje estamos estudando 18 empregos diferentes da pele de tilápia, com potencial de poder chegar a muito mais”, diz o pesquisador.

O presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), Edmar Maciel Lima Júnior, que coordena as pesquisas ao lado do Prof. Odorico, acrescenta que, hoje, há estudos sobre o uso do material em sete estados do Brasil e em seis países, com 43 projetos de pesquisa em andamento. “Estamos desenvolvendo produtos que ainda serão testados: válvulas cardíacas, vasos para [procedimentos de] revascularização, [uso da pele da tilápia para] hérnia abdominal, dentre outros. São inúmeros os produtos desenvolvidos laboratorialmente”, afirma. (UFC)

Confira detalhes sobre as perspectivas dos pesquisadores em reportagem da Agência UFC

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