opinião

AMEAÇA À DEMOCRACIA

10 de junho de 2020

Por Maria Eduarda César Raposo

O fascismo é uma ideologia originária na Itália, na década de 1920, caracterizada por práticas ultranacionalistas e opressoras. Por isso, o resultado visto em países tomados pelo regime foi um cenário de liderança autoritarista, fim da liberdade de imprensa e de expressão, desumanização de minorias e da oposição – que, por sua vez, eram vistas como inimigas – e aderência à uma visão mística acerca de quem detinha o poder. Além disso, militantes desse regime, tradicionalmente, denominam-se como anticomunistas, negam as evidências científicas e enxergam, em um líder, o potencial para transformar a nação.

A priori, o fascismo histórico nasceu como um movimento criado pelo líder fascista Benito Mussolini no contexto pós-Primeira Guerra Mundial, no qual os cidadãos italianos estavam ressentidos e buscavam, desesperadamente, em um único indivíduo, a solução para todos os problemas da nação. Dessa forma, à medida que Mussolini discursava defendendo a ideia de que detinha verdades absolutas – utilizando-se, muitas vezes, de teorias da conspiração – e difundia pensamentos que estimulavam a perseguição aos opositores, a parcela da população que compartilhava dos mesmos ideais sentia-se representada.

Ademais, vale salientar que, os protestos onde esses militantes atuavam não continham, necessariamente, um grande número de pessoas. Assim, as manifestações fascistas se apresentam, na sua grande maioria, de forma discreta e acanhada levando em consideração o número de manifestantes. Porém, mesmo nesses moldes, a ideologia conseguiu chegar ao poder. Nessas reuniões, eles reivindicavam aspectos como o fechamento de Instituições, o fim da liberdade de imprensa e a volta de costumes e valores tradicionais, nunca deixando de atacar as minorias e endeusar o líder, como já foi mencionado anteriormente.

Analogamente, nos dias atuais, o Brasil enfrenta uma onda de protestos Neofascistas. Nesse viés, muitos historiadores ainda não consideram que isso seja a volta do fascismo, mas não deixam de observar e de alertar a respeito das semelhanças entre o fascismo histórico – que já foi derrubado no mundo todo -, as reivindicações presentes nessas manifestações e a postura do Presidente da República diante dessa situação que ameaça a democracia brasileira.

Levando em conta os fatos mencionados no parágrafo anterior, é necessário fazer menção também, de forma específica e contundente, à forma que o Neofascismo se apresenta e como se deve reagir a isso, em busca da manutenção do sistema democrático.

Nesses moldes, estudiosos identificam como Neofascistas as manifestações que vêm ocorrendo frequentemente em frente ao Palácio do Planalto, onde o grupo se utiliza de camisas da Seleção Brasileira de Futebol, bandeiras nacionais do Brasil, de Israel e dos Estados Unidos e também, onde são erguidas faixas pedindo Intervenção Militar, Fechamento do Supremo Tribunal Federal e a volta do AI-5. Não satisfeitos, declaram nessas mesmas faixas apoio ao Presidente Jair Messias Bolsonaro, aclamado pelos seus seguidores como “mito”, desde sua campanha eleitoral.

Enquanto os manifestantes atuam, o Presidente, em plena pandemia, passeia de helicóptero, acena contente e tem contato físico com seu apoiares (sem máscara e desrespeitando o distanciamento social). Por vezes discursa – demonstrando apoio às manifestações antidemocráticas, que para piorar, ao mesmo tempo, vão de encontro às recomendações da Comunidade Científica Internacional e da Organização Mundial da Saúde, já que promovem aglomeração – e anda à cavalo, a fim de demonstrar ao povo a íntima relação que tem com as forças armadas.

Para concluir, entre as inadmissíveis atitudes cometidas pelo Presidente, também cabe citar algumas postagens feitas pelo mesmo na rede Twitter, ou até mesmo os vídeos que grava para serem transmitidos em rede nacional, nos quais, frequentemente, faz apologia e cita bordões utilizados por torturadores, ditadores e líderes fascistas. Exemplo recente disso é a postagem de um vídeo, feita recentemente por ele, no qual um senhor italiano fazia referência a uma frase atribuída ao próprio Mussolini, “melhor um dia como leão, do que cem anos como ovelha”.

Se o problema ficasse apenas nas postagens, as ameaças não seriam assim, tão intimidadoras. Porém, o Neofascismo vai muito além das redes sociais no atual Governo Federal, uma vez que ele ultrapassou as barreiras que, supostamente, deveriam proteger os Ministérios. O último escândalo ocorreu quando foi tomada a decisão de que os dados sobre as vítimas da Covid-19 não seriam mais divulgados oficialmente de forma segura – por mais que já houvesse subnotificação de casos confirmados antes da decisão -, fato que resulta no desconhecimento da população a respeito da pandemia. Cenário esse encaixa-se perfeitamente em uma das práticas comuns às práticas fascistas: manipulação de dados feita pelo Governo, que acarreta a manipulação da massa e coloca vidas em risco.

Por isso, assim como avisei em meados de 2018, retorno aqui para alegar, com base em estudos sérios, que o Neofascismo está presente em meio a sociedade brasileira e que não podemos deixar que nos calem. Assim, digo que a luta é essencial à vida da democracia, e que a reação Antifascista precisa acontecer imediatamente. Não é só a esquerda que está avisando, aliás nunca foi. Esse, desde os princípios, é trabalho da História.

 

 

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3 Comentários

  • Reply Genival 10 de junho de 2020 at 20:25

    Longo demais pra ler, vou esperar o filme!!!!

  • Reply Cavalcanti 10 de junho de 2020 at 22:20

    Para um bom entendedor uma palavra basta
    Eu estou pensando a mesma coisa

  • Reply Bonifácio Rocha de Medeiros 11 de junho de 2020 at 10:09

    Muito esclarecedor apesar de resumido, infelizmente não temos mais paciência de ler longos trechos, mas a autora inteligentemente nos poupou de fazê-lo, contextuando muito bem o tema. Estamos mesmo avistando o monstro (fascismo), como enfrentá-lo não sabemos ainda, ou sabemos ?

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