Minha comadre Nevinha anda muito queixosa com o tratamento que vem lhe dispensando o meu compadre Mundinho. Diz que ele não é nem sombra daquele rapaz atencioso de antigamente, que estendia sua camisa branca feito neve para ela passar sobre a poça de lama do Alto do Mateus.
Naquele tempo, quando comadre Nevinha dava uma topada, Mundinho se achegava todo faceiro e delicado, ajoelhava-se aos seus pés, pegava o dedo dolorido e dava um beijo.-Deixa eu beijar, que passa”, garantia.
Agora, quando comadre Nevinha dá a mesma topada, Mundinho se volta e grita: – Tá cega?!
É um problema geral, posso dizer. Raros são os maridos que conservam o lado romântico quando tratam com as mulheres, depois de bodas e mais bodas vividas.
Gilvanzinho está aí para não me deixar mentir.
Quando juntou seus trapos com Jussara, a união dos pombinhos prometia atravessar os estágios da vida e perdurar depois da morte.
Vinte anos se passaram e hoje Jussara leva nome de gorda, mas devolve o galanteio chamando seu amado de “manequim”, referindo-se ao bucho proeminente que chega a descer pelas pernas e cobrir os “pissuidos”.
Ontem Jussara quebrou o pé. Está de bota de gesso. Na volta do hospital, pararam na farmácia para comprar o remédio receitado. O farmacêutico informou que só havia em gotas e que Jussara tomaria uma gota por cada quilo de peso.
-Então pode descer logo três caixas dessas -, mandou Gilvanzinho, no seu jeito delicado de ser.
Quando chegaram em casa, ela, suada e tristonha, lamentou-se:
-Êita, marido, perdemos o carnaval!
-Perdemos não, pois não quebrei pé nenhum -, respondeu-lhe o amado, com a sua inquestionável solidariedade.
Sem Comentários