Marcos Pires
Mesmo depois de morto Anacleto Reinaldo ainda manteve contato comigo. Na verdade, um dia depois do seu falecimento meu celular tocou e no visor o autor da chamada era Anacleto. Depois de muita adrenalina atendi e do outro lado quem falava, usando o telefone de Anacleto, era seu assessor “Lapa de corno”. Queria saber se o meu compromisso com Anacleto sobreviveria à morte dele. Em resumo eu dava ao amigo, toda semana, o que ele codificou como “empurrão”; uma pequena ajuda para a produção dos seus programas radiofônicos. Com Lapa de corno o compromisso passou a ser semanal. Sempre em memória de Anacleto.
Ah, curioso leitor; você não conheceu Anacleto? Pois bom, uma rapidinha dele. Com seu metro e trinta de brabeza e altura, apresentava seu programa diário no rádio quando entrou a jovem trazendo no colo uma criança. Reclamou que o pai do menor abandonara mãe e filho e não dava pensão. Tratava-se de militar chamado (digamos) Batista. Anacleto incorporou a raiva e esbravejou no microfone: “- Soldado Batista, cabra safado, cachorro, sem vergonha, viado, corno…”e por aí foi até o limite do seu vocabulário. Dia seguinte, mesmo horário, programa ao vivo e no ar, adentra o estúdio um sargento fardado e armado, que Anacleto imediatamente identificou como o militar que ele insultara na véspera. Antes da autoridade falar qualquer coisa, o bravíssimo radialista atacou: “- E acaba de chegar aqui o general Batista, que ontem foi difamado por uma meretriz, uma marafona, uma mulher de rua, que atacou a honra desse exemplo do Duque de Caxias. Receba, meu general, nossa solidariedade”. Tudo certo.
Pois um dia deu-se que eu acompanhava meu enorme amigo Eduardo Albuquerque numa audiência em Santa Rita. À época Eduardo era Procurador Geral de Justiça em Brasília, e no momento em que íamos ao fórum Anacleto ligou pedindo mais um “empurrão”. Expliquei que falaria depois porque estava com Eduardo, que chegara de Brasília para uma audiência. Ao desligar ouvimos no rádio Anacleto dizendo que eu estava acompanhado de uma das maiores autoridades do país, que Eduardo era o máximo e rasgou um quilo de elogios.
Horas depois, voltando da audiência com Eduardo, recebi uma ligação de Anacleto, com quem acertei a grana. Ao final, ele emendou: “- Ô Doutor Marcos, e quem é mesmo esse pomba de galinha desse Eduardo que eu tanto elogiei? ”.
Saudades de Anacleto Reinaldo.
2 Comentários
Quer dizer que aquela brabeza toda era só o personagem. Me acabei de rir agora.
Quando chefe de reportagem da página policial do jornal “O NORTE”, o saudoso Anacleto foi meu chefe e era engraçado demais.