Apenas um contador de histórias

Marcos Pires

Quando o banco Noroeste foi vendido ao Santander descobriu-se uma fraude de quase 250 milhões de dólares, que correspondiam à metade do capital daquela casa bancária. A maioria das pessoas pararia por aqui no que diz respeito a esse fato. Não é o meu caso. Como não tenho absolutamente nada para fazer na vida, fui pesquisar o assunto porque vivo à caça de histórias boas de contar.

A fraude fora praticada por Nelson Sakaguchi, à época gerente da filial do banco Santander numa ilha do Caribe. O nissei havia emprestado a grana para empresários nigerianos que iriam construir um big aeroporto naquele país. Claro que era um golpe e o dinheiro do Noroeste desapareceu.

Mesmo os mais curiosos deixariam de lado o assunto neste ponto ante a mesmice da notícia. Afinal, golpes existem todos os dias ao redor do mundo.

Eu não; pesquisando mais a fundo descobri que o tal Nelson Sakaguchi entendeu que fora vítima de um golpe e para recuperar a grana o que foi que ele fez? Inacreditavelmente contratou a Sra. Maria Rodrigues de Oliveira. Não, ela não era auditora e muito menos perita em finanças. Era uma mãe de santo à qual Nelson pagou “apenas” 4 milhões de dólares para fazer com que a grana voltasse aos cofres do banco. Talvez a pomba gira não tenha se esforçado bastante, mas o certo é que os trabalhos espirituais em nada resultaram. Resumidamente Sakaguchi foi condenado a 6 anos de prisão. Esses são os fatos públicos.

O que se segue é fruto do meu talento de contador de histórias. Neste ponto de qualquer narrativa eu começo a questionar os circunstantes. No caso aqui narrado pergunto duas coisas: 1- vocês acreditam que um simples gerente de banco teria autonomia para emprestar metade do capital desse banco e 2- vocês já ouviram falar de algum banco na história do mundo que tenha concentrado metade de seu capital num único negócio?

Sempre consigo despertar intensos debates. Neste caso a ideia mais interessante partiu do senhor N., aquele careca que entende de práticas policiais. “-Balão, esse pessoal inventou os nigerianos, ficou com a grana e deixou de pagar mais de 50 milhões de dólares de imposto de renda, já que supostamente não havia grana para gerar imposto”. Absurdo desconfiar de gente tão bacana como donos de bancos.