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AS 70 MULHERES DE PRINCESA

7 de outubro de 2020

Um episódio da Guerra de Princesa ficou perdido na história. Trata-se da fuga de 70 mulheres da alta sociedade princesense, que, por serem parentes ou simpáticas ao coronel José Pereira Lima, se tornaram alvos da perseguição da Polícia Militar, que invadiu a cidade logo após as tropas do Exército terem se retirado por ordem expressa da revolução.

As mulheres, ao contrário dos homens que se esconderam em lugares distantes, muitos deles caindo na clandestinidade, fugiram para a vizinha Flores, em Pernambuco, onde, para sobreviver, se tornaram costureiras, artesãs e professoras das crianças da cidade.

Hermosa Pereira Sitônio, sobrinha de José Pereira, era uma delas. Em entrevista publicada no Correio da Paraíba em 2016, ela, aos 104 anos, relembrou que por causa dos trabalhos que realizavam, as mulheres de Princesa sofriam preconceito das mulheres de Flores.

E um dia, quando estavam todas reunidas trabalhando, um homem apareceu. Era o Coronel José Pereira, desaparecido desde que abandonara Princesa e fugira para não morrer, que surgiu de súbito para uma  visita rápida, mesmo correndo o risco de encontrar as volantes policiais ainda em seu encalço. Hermosa conta que todas ficaram emocionadas.

Hermosa nasceu em 13 de fevereiro de 1013. Era carnaval. Sua mãe, Alexandrina, era irmã de Zé Pereira. O pai dela, João de Campos Góes, morreu quando ela tinha menos de um ano de nascida. Por isso o coronel tomou para si a responsabilidade de pai.

Caminhando em paralelo às histórias da Revolta de Princesa, Hermosa relembra na entrevista ao Correio da Paraíba fatos relacionados ao movimento do cangaço, mais especificamente da intriga que Lampião, o rei, tinha com Zé Pereira, o coronel, e consequentemente, com Princesa. Segundo ela, Virgulino Ferreira recebia apoio de cidades vizinhas para manter seu bando ativo. E em uma das tentativas de invadir uma dessas cidades, Lampião sofreu um de seus piores ataques. As tropas do Coronel Zé Pereira o expulsaram e o chefe do bando foi alvejado com um tiro no tornozelo. Hermosa relata que quando o cangaceiro foi encontrado, agonizara na mata por 12 dias e tinha o pé preso à perna apenas por tendões.

Em outra história envolvendo o rei do cangaço, Hermosa conta que o bando chegou na fazenda Riacho dos Navios, onde seu pai costumava morar. E questionou de quem eram os gados daquela propriedade.

– É dos sobrinhos do Coronel Zé Pereira”, respondeu um criado.

E nesse momento, Virgulino mandou sua tropa a fuzilar todos os animais.

Matou 60 bois e vacas.

A centenária acreditava que não foram assassinadas pelo temido rei do cangaço por sorte. “Ele (Lampião) só não nos matou porque não conseguiu nos pegar ”, afirmou Hermosa.

Zé Pereira ainda foi traído por seu cunhado, Marcolino Pereira, que foi coiteiro de Lampião em uma de suas fugas nas redondezas de Princesa.

Eles protegiam Lampião por medo, não era maldade”, assegurou ela.

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