Era tudo muito simples na casa do velho Cabral. Uma poltrona na sala de visitas, a mesa com seis cadeiras na sala de refeições, a cozinha e o quintal de piso encimentado, onde ficava a churrasqueira de roda de carro, de carvão aceso, assando a carne da festa.
Não tinha horário estabelecido para começar, bastava o sol se por para Cabral acender o fogo e abrir as portas de casa para os parentes e para os seus amigos do Jardim Sepol.
E tome carne assada com uísque nacional. As meninas bebiam vinho e cerveja, os mais afoitos iam de uísque ou de cachaça maribondo vinda do barraco de Zé da São Pedro.
Antonio Doido era o primeiro a chegar e o último a abandonar a cena da festa. E só o fazia quando não havia mais carne assada na churrasqueira.
E Cabral, feliz da vida, aguardava o final da corrida de São Silvestre para então proclamar que mais um ano se passara sem ele “queimar o fuzi”.
Um dia o “fuzi” de Cabral queimou, a casa foi vendida, dona Marta também passou a habitar outras paragens, cada filho foi para o seu endereço e a festa emudeceu.
Nada de carne assada, nada de Antonio Doido, nada de discursos.
Só lembranças que o tempo aos poucos vai transformando em imagens distantes, quase apagadas.
3 Comentários
Tião, seu Cabral era seu sogro ?
era
Nostálgico, mas é a velha vida. No dia 25 de fevereiro de 2020 o meu sogro também me deixou, ficou aquela saudade