Quando Seu Neco morreu, a comoção não foi por causa da morte em si, mas pelas circunstância como se deu.
Homem caseiro e pacato, temente a Deus, frequentador assíduo de missas e novenas, era um exemplo a ser seguido por todos aqueles que primavam pelo bem da família e dos bons costumes.
Sapateiro de profissão, sem vícios, sem nada que reprovasse seus atos, era alvo de citações das beatas fofoqueiras que viviam a azucrinar a vida de notívagos incorrigíveis como Antonio Coxilha, Toga Hora Morta, Chico de Anjinha e Antonio Carga Torta, notórios raparigueiros e notáveis divulgadores das amigações com raparigas difamadas pelas religiosas de plantão.
Mas Seu Neco morreu. E morreu de modo comprometedor.
Encontraram-no morto em cima da Nêga Bola, depois de uma foda galopante e de um orgasmo que lhe estourou as veias do coração.
Bola nem teve tempo para fugir do embaraço. Só lhe foi permitido ver a cara do amante em profundo gozo, os olhos estufados, a boca aberta, o ronco vindo da alma e o baque em cima dela.
O cabaré da Rua da Lapa viveu o maior alvoroço. Afinal, não era comum morte daquele tipo. As putas e frequentadores conheciam os que morriam de tiro, de faca e de paulada.
Não fazia uma semana, na poeira da rua ficara estatelado Chico Coco, emérito senhor de rapariga amigada, com direito a teto, cozinha e quarto perpétuos na casa da acesa Lurdes Branca. Alguém chegou na boca de noite e encontrou Chico matando as horas na preguiçosa armada na calçada da casa. Dali mesmo foi tirado da vida. Três tiros certeiros acertaram na caixa dos peitos e o levaram para o outro mundo.
Deve ser dito que Chico vivia de saldo médio, já que escapara de mortes anteriores, talvez até mais perigosas do que a consumada. Toinho Mandau arrancou suas tripas a facadas numa briga de pif-paf. O coitado foi levado numa cadeira, sentado e quatro pessoas carregando e uma quinta pessoa segurando o fato do pobre para não cair no calçamento. Doutor Severiano botou as tripas de volta, costurou o buraco e Chico se salvou. Para morrer de bala, que era e é morte mais chique, a altura da nobreza do filho de Cassimiro Coco.
Voltando a Seu Neco, deve ser dito que o maior problema enfrentado pela família não foi a morte em si, devidamente acoitada pelo pessoal da igreja.
Ao morrer “daquele jeito”, seu Neco não conseguiu amolecer o que estava duro. E deixou para os herdeiros o problema quase insolúvel: abaixar a ferramenta para permitir o fechamento do colchão.
Sugestões foram feitas, soluções apresentadas, mas nenhuma delas resolvia o caso. Chicão do Ò, fabricante do caixão, afirmava que mesmo fazendo uma alteração na tampa, haveria de ficar o boato daquela parte mais alta, em formato suspeitoso, que cobriria os excessos do defunto.
Até que surgiu a sugestão apresentada por Chico Pedro, após o consumo de cinco garrafas de Pitu: Cortar a rola do morto e enfiá-la no cu.
Sugestão acatada por todos, inclusive pela viúva.
Seu Neco é que, aparentemente, não gostou, pois quando a parte cortada lhe foi devolvida ao “fundo”, duas lágrimas pesarosas escorreram pelas suas faces.
2 Comentários
Kkkk, que estória
História sensacional