Houve uma raça que se extinguiu quando a mulher decidiu perder a vergonha e mostrar o corpo a quem quisesse olhar. Foi a dos punheteiros, jovens que tinham dificuldade de encontrar onde aliviar suas precisões sexuais e valiam-se da solidão dos matos, das espiadas gulosas e do frenesi das munhecas para conhecer o prazer antes do casamento.
No interior de Princesa, o joelho de Anita valia por mil bundas mostradas hoje pelas calças compridas da moda, essas que descobrem os particulares da mulher de modo oferecido. Uma calcinha, que não se via tão facilmente, valia um mês de emoções. Agora elas se descobrem ao menor abaixamento da mulher, ao simples movimento de perna. Mas naqueles tempos, para se ver essa preciosa indumentária o rapaz penava. Era mais fácil ganhar no bicho.
A turma das espionagens fazia ponto na Pixilinga do Açude Velho, para onde corriam as mulheres lavadeiras. Ali, entre as pedras, elas lavavam as roupas acocoradas, mostrando as partes internas das coxas. Era uma visão poderosa, capaz de transportar o observador a mundos encantados e suspirosos. O melhor, porém, vinha depois, quando terminavam a lavagem, tiravam a roupa e mergulhavam na água para o banho reconfortante.
Era por isso que a turma não tinha uma grama de carne. A magreza dos meninos causava espanto. Desses, o único que continuava gordo era Dé Galdino.
Do time dos observadores do pecado alheio destacavam-se os irmãos Teté e João Passarinho. Para onde um ia, levava o outro. E quando a turma não estava, os dois agiam em dupla. Como aconteceu naquela manhã de sábado, no Açude Velho.
Teté e João sentiram o cheiro de mulher lavando roupa, nem bem pularam a cerca de Seu Edmundo. Começaram dali mesmo o serviço, andando e balançando as mãos no vai e vem frenético. Teté na frente, João atrás, a mulher lá longe, eis que Teté chega primeiro, espia, dá uma volta seca e grita, alarmado:
-João, tu já gozou?
-Ainda não, mas tô quaje! – respondeu João com a voz entrecortada.
E Teté, tentando evitar uma tragédia:
-Então pare aí, porque quem tá lavando roupa é mãe!
2 Comentários
Que história saborosa. Eu já ri tanto quantas vezes eu li. Obrigado.
puta qui pariu, tião, que história do caralho! essa é mesmo uma história do caralho, literalmente.
a história sai do jeito como ela é, sem arrodeios, sem falso-moralismos.
adoro esse discurso nu de preconceitos, sem carolice, tipo assim, pica na buceta,
pois coisa mais laica não há, do que essa bela combinação,
via regular através da qual somos feitos e nascemos e cumprimos o verbo divino de crescer e multiplicar.
sua história não tem nada a ver com pornô, nem contra nô, é a vida como ela era naqueles tempos sem internet,
sem redes sociais e onde a canalhice e a putaria escrota andam de rédeas soltas e é produzida nos estudios, movimentam bilhões
de dólares, enquanto que a sensualidade natural das lavadeiras da pichilinga não movimentavam dinheiro algum,
a não ser as mãos dos meninos escondidos entre os juncos do açude, revirando os olhos, como teté e zé passarinho, os maravilhosos garotos de sua narrativa.