Deixei Dona Cacilda aguardando a sua vez de entrar no consultório de Ruy Gouveia e fui à Livraria de A União, no Espaço Cultural, comprar o livro “Memórias de A União volume 1”.
A moça que me atendeu, ao me reconhecer, disse que havia um exemplar para mim. E me entregou o livro, embrulhado e protegido por fitas adesivas. De graça.
Antes de mais nada aviso que sou um dos personagens do livro.
Abri e li, de uma tirada só, o primeiro depoimento, o de Gonzaga Rodrigues, nosso comandante e professor.
Gonzaga fala do seu começo em 1950 como revisor. Das suas idas à oficina tocaiar a impressão, da subida ao cargo de secretário do jornal, se reporta ao tempo em que, ao lado de Nathanael, comandou a turma da qual fiz parte com muita honra, depois chega aos dias de hoje, aos dias da internet que, se facilitou a vida de muitos com a chegada do computador, tirou da imprensa o gostinho incomparável do furo, da reportagem chorada e sentida, do reconhecimento nas ruas.
Ele diz que, mesmo se esforçando para colocar na praça uma bela crônica, quase ninguém o cumprimenta quando passeia pelo Ponto de Cem Réis. “Até o jornaleiro morreu”, constata Gonzaga cheio de saudades.
E Gonzaga tem razão.
Houve um tempo de aventuras, de romantismo, de fazer jornal com alma e coração.
A gente andava a pé catando a notícia. Sentíamos orgasmos após um furo de reportagem. Hoje, nem beber os jornalistas bebem mais. E boemia virou coisa do passado.
Somos um bando de robôs tratando a notícia como se trata uma galinha.
O bom português foi assassinado. E a ideologia do jornalista se mede pelo tamanho da verba liberada pelas Secoms da vida.
1 Comentário
Eita, Tião Lucena velho de guerra. O último parágrafo foi gostosissimo de ler e aplaudir. Parabéns !!!!!