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Domingueiras do Tião

3 de dezembro de 2023

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ

Em janeiro de 1945 o correspondente de guerra, Rubem Braga, encontrou nos campos de batalha da Itália um pernambucano de Afogados da Ingazeira, que, como contou mais tarde, se alistara no Exército por causa de uma raiva que teve em Princesa, na Paraíba. Ele tangia bois e ao tentar passar com a boiada na terra de Zé Pereira, foi impedido por não portar a carteira de reservista. Revoltado, juntou os trapos numa mala velha e foi embora para o Exército, firme no propósito de um dia voltar, documentado, para completar a viagem.

 

Seu nome: Otacílio Braz Leite.

 

E a sua história, nas palavras de Rubem Braga:

 

“Outro dia eu estava na estrada à procura de uma reportagem, mas o “carro-comando” enguiçou num atoleiro e escureceu sem aparecer quem nos tirasse de lá. Então comecei as conversar com o motorista – e essa conversa dá uma crônica.

 

O motorista é um rapaz louro, de bigodes louros e, como o conhecia pouco, pensei que fosse de Santa Catarina, por exemplo, mas estranhei o seu sotaque. Ele me explicou que era nascido em Afogados da Ingazeira e residente em Carnaíba das Flores, Estado de Pernambuco, e se chamava Otacílio Braz Leite.

 

Perguntei como é que ele veio parar no Expedicionário e ele explicou:

 

– É porque eu fui levar uma boiada na Paraíba…

 

A história é perfeitamente verdadeira: Esse homem está aqui, ao meu lado, numa horrível estrada dos Apeninos ouvindo a explosão das granadas alemães, nesta tarde de chuva e frio, porque uma vez foi levar uma boiada à Paraíba…

 

– Não era muito gado, mas era só reprodutor bom, umas 37 cabeças. Meu pai tem uma fazenda de criação em Carnaíba das Flores e eu sempre viajava pelo sertão para buscar boi e levar boi. Dessa vez eu tinha que tocar por umas 100 léguas, até Sousa, no sertão da Paraíba, mas quando cheguei em Princesa não pude passar. Teimei muito, mas disseram que sem carteira de reservista eu não passava com o gado. Então fiquei danado e voltei com o gado até Carnaíba e disse lá em casa que ia dar um passeio. Botei a mala nas costas e andei 5 léguas, até Afogados.

 

Lá arranjei lugar num caminhão para Garanhuns e em Garanhuns peguei outro caminhão para o Recife. Perguntei onde era o quartel, fui a Socorro, me apresentei no 21º B.C.

 

O resto da história é simples: O voluntário Braz foi depois transferido para o 14º R.I. e ali ficou sendo ordenança do Capitão Sílvio Cahu. Esse oficial foi depois para São Paulo, onde servia no Q.G. da Região – e o ordenança foi também. Um dia o comandante da Região – que era o General Mascarenhas – foi nomeado comandante da Força Expedicionária – ordenança e capitão o seguiram. Nesses 5 anos de Exército, Braz aprendeu muita coisa, e entre outras a ser motorista. Diz que gosta mais de equitação, que também aprendeu – o que é natural em um vaqueiro. (E eu acho que ele deve saber andar a cavalo melhor do que dirigir “carro comando”.)

 

– Esta vida é engraçada. Lá eu levava tropa de boi, aqui, às vezes, me dão um caminhão e eu levo tropa de gente…”

 

– Braz, o que é que você vai fazer quando acabar a guerra?

 

– “Bem, eu tenho uma noiva, quero ver se caso. Depois vou para a fazenda…”

 

E pensando nas boiadas:

 

– Eu só quero ver se eles vão me barrar outra vez lá em Princesa.

 

 

NIVER DE MARÇAL

Eu tenho amigos que sumiram no meio do caminho e tenho amigos, poucos, que estão comigo faça chuva e faça sol. Marçal Lima Júnior, ou Marçalzinho, como o chamo, é um amigo do primeiro time.

 

Homem de bem, divertido, festeiro, boêmio, mas também responsável, cumpridor de obrigações e cuidador da família, Marçalzinho é um daqueles sertanejos que não arredam do torrão natal, mas conhece os acontecidos em Oropa, França e Bahia. Sua casa é um recanto de encontro dos amigos mais influentes da cidade para discussão dos principais problemas de Princesa, região e mundo.

 

Ali se reuniam e ainda se reúnem Zé Duarte, Cícero Florentino, Zé Góes (de saudosa memória), eu fui lá muitas vezes e pretendo ir quando lá chegar, todos ao redor de imenso aparelho de TV ligado aos principais canais do país, com os devidos comentários dos telespectadores, tendo no centro da mesa uma garrafa da milagrosa pitu e os quitutes de tira-gosto que a dedicada Ilma, sua companheira para a eternidade, prepara com muito gosto.

 

Esta semana foi seu aniversário e fiquei roendo por estar distante das terrinha e não poder lhe dar o merecido abraço.

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