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AS PRIMEIRAS DO DIA

31 de outubro de 2018

O guerrilheiro Paulo Mariano saiu da UTI e seguiu para uma Semi UTI que fica no sexto andar do Hospital da Unimed. Se ele está melhor? Creio que sim. Já deu o dedo para a enfermeira e isso é um bom sinal.

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O cabra é duro.

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Falar nisso, Aldo Lopes envia para cá o Testamento de Paulo Mariano que ele escreveu e merece descrição. Devo acrescentar que metade do pessoal citado no documento já foi pra cidade dos pés juntos. Paulo ficou e está ficando, numa prova de que é imortal.

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Mas vamos ao testamento:

Testamento de Paulo

Por Aldo Lopes de Araújo

Quero o meu velório em minha casa. E sem discursos, por favor. Guardem o verbo pro cemitério, à beira da cova é mais comovedor. Não abro mão do bloco dos Arapapacas nem do sax de Manuel Marrocos. Cantem o hino do meu time, o meu samba predileto. E se Terezinha desatar na choradeira, peçam ao doutor Zoma que lhe aplique uma dormideira. Só não me venham com Zé Batista, por favor. Façam uma festa, detesto tristeza. E podem falar dos meus podres, das bagunças que abri, das mulheres que amei, das muitas que não comi, dos cabras que não matei. Digam que fui comunista.

Vou morrer em frente à casa de Coimbra, na cabeça da ladeira que carrega a avenida até a porta lá de casa. A última lapada beberei no Bar do Gera. É só me dar um empurrão na esquina de Afonso que pego logo a embalagem. Meu cadáver vai passar em frente ao prédio da prefeitura, mas dessa vez não irei esculhambar. Vou em silêncio, no respeito, desfrutando da lei da gravidade, a única lei a me trazer um benefício, já que as outras, as do juiz, só fizeram me encrencar. Quando meu corpo bater à porta, a companheira vai me agarrar. Ô vidinha sem futuro, Terezinha.

Quando enfim me levarem ao cemitério, cortem caminho pela Rua da Cadeia, em demanda do Cancão. Nada de subir pela Rua Grande, pra não passar nem por perto da igreja. Não deixem João Mandu se aproximar do meu caixão, ele pode me fazer uma desfeita: desviar o meu cadáver para dentro da matriz. Missa de sétimo dia, nem pensar. Não me façam necrológio. Não noticiem no rádio a minha morte, Zé Duarte não está autorizado. Nada de velas e coroas de flores, nem enfeites no caixão, pois nunca gostei de coisas que não combinam com macho, também não sou terreiro onde se apronta despacho. É perda de tempo e dinheiro.

A minha cova quero que cavem bem distante do túmulo do meu pai, do jazigo dos Pereira, da cripta dos Nominando. Nunca fui rabo-de-couro e detesto boca-preta. Escavaquem lá detrás que é onde se enterram os bêbados pés-de-chinelo, os dementes, os loucos da cidade, a vala comum dos sem sorte. Não precisa cruz nem nome ou qualquer indicação. Morte é morte. E eu quero é morrer completamente.

A minha biblioteca doem à escola, meus escritos mandem pra Aldo e minhas roupas deem a Zé Grosso. O resto da cacaria, contando com as duas casas — e que não pude torrar — fica tudo pra família, conforme os termos da lei. Mas por favor, me deixem inteiro, do jeitinho que nasci. Digo isso porque sei que nada em mim dá pra ninguém, porque nunca fui sadio. Meu pulmão é um fole preto, a desgraça do cigarro, tem catarro, infiltração. O fígado virou chiclete, atoleiro de cachaça. E meu coração tão sem graça, não há doutor no mundo que lhe restaure o compasso, que lhe devolva o bolero. No resto não mais se fala, é isso que você vê.

Chegando no cemitério, liberem logo a palavra, soltem as grades do peito, deixe quem quiser falar, os pariceiros, os camaradas, os poucos gatos pingados que irão me acompanhar. Mas me façam uma seleção. Aloysio, não. E Gonzaga nem pensar. Waldemar, Assis Maria, muito menos Rialtoam. Convoquem Dominguinhos para o discurso de encerramento. Disso eu faço questão. E mande ele descer a lenha, que jumento não ressuscita. E após isso cumprido, me cubram logo de terra. Mas antes abram o caixão, puxem minha mão para fora, quero meu dedo estirado, aquele cujo do meio, dizendo taqui pra vocês. Façam isso. E muito obrigado. É essa minha posição. Minha vontade derradeira.

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1berto de Almeida e seu irmão Da Penha foram me ver e não me viram. Mas deixaram um livro do segundo para eu me deleitar neste final de semana. Dois cabras altamente arretados.

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Bem merecida a lapada de Marcos Maivado Marinho em Zé Neumani Pinto.

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O senador Cássio está muito magoado com um fogueteiro de Campina Grande. O sujeito soltou foguetões comemorando a sua derrota para o Senado.

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Cassio disse ao dito cujo que apesar dos pipocos, seus ouvidos não escutaram nada.

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E que existe vida inteligente e boa fora da política.

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Amigo misterioso, carta anônima eu não publico. Quem não tem coragem de mostrar a cara, não merece o meu respeito.

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De frouxo, basta eu.

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E pronto.

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1 Comentário

  • Reply Francisco Pires Rodrigues 31 de outubro de 2018 at 07:10

    Meu amigo paulo você e forte.

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