opinião

As primeiras do dia

5 de agosto de 2019

João Pessoa já foi das acácias, hoje é a capital dos edifícios e dos condomínios fechados. A sua parte histórica está abandonada, o grande comércio da Maciel Pinheiro sobrevive na uti, não tem mais os antigos cabarés da parte baixa e seus sobrados antigos desmoronam quase diariamente, transformando aquele lado da cidade num cemitério.

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A velha Torre de tantas aventuras virou bairro comercial. As poucas casas que restam disputam o espaço com lojas de ferragens, de material de construção, de supermercados , de clínicas e de hospitais. Sobrou, como derradeiro refúgio, o velho mercado a oferecer o seu cuscuz com bode e cachaça aos boêmios que varam as noites perambulando pelos bares e vão ao mercado tirar a ressaca.

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A antiga Trincheiras é apenas uma sombra do que foi. Os casarões antigos foram invadidos pelo mato, muitos deles caíram. Segundo os apontamentos dos estudiosos, no início do século XX, essa foi uma das áreas residenciais de maior prestígio da cidade, podendo ser considerada uma vitrine da Bela Época paraibana, repleta de edifícios ecléticos. Em 1918, foi construída a balaustrada, com o intuito de separar este bairro do abismo que o margeia, oferecendo, assim, proteção aos caminhantes.

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E a Rua da Areia, que ainda conheci habitada, hoje é um monte de ruinas sobrevivendo sob um monstrengo chamado Viaduto. De pé, convém de dizer, sobrevivem a Casa do Estudante e algumas construções transformadas em cabarés de quinta categoria.

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Os mais antigos devem se lembrar do Pavilhão do Chá. Eu bebi cervejas ali. Também levei a namorada para tomar sorvete. Hoje ninguém sabe dizer para que serve. Nem as putas o procuram mais à caça de clientes. Ela fugiram para o coreto mais adiante, igualmente entregue às moscas e ao fedor do banheiro mal cuidado que existe no seu interior.

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Quem ainda não correu, está correndo para a Epitácio Pessoa, hoje uma avenida comercial com poucos moradores, e para a praia. Até o trecho João Pessoa/Cabedelo virou ponto comercial.

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Mas a cidade resiste. E continua linda. E eu a amo mesmo assim.

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Amo suas praias, as mais belas do Brasil.

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Amo o seu verde, representado pela Mata do Buraquinho.

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Amo a sua boa água de se beber.

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Amo os bons restaurantes.

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E amo o povo acolhedor, que recebe o visitante com um abraço e se despede desejando um feliz retorno.

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Enfim, aqui finquei raizes, casei, tive filhos e agora vigio os netos.

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5 Comentários

  • Reply ALYSSON BEZERRA DA COSTA 5 de agosto de 2019 at 08:27

    Prezado Tião, respeito seu ponto de vista, concordo com o que você falou até a parte que “continua linda,” com as praias “mais belas” e o “verde”(resistente) da mata do buraquinho.

    Infelizmente nossa cidade é feia, suja, cheia de buracos, uma miséria crescente(há 10 anos tínhamos esse numero de lavadores de para-brisas nos sinais? eu mesmo respondo, nem sequer existia)

    Estamos acabando com a capital das acaias, a exploração imobiliária já fez estragos irremediáveis, infelizmente. Tempo bom que não volta.

    A sociedade mudou amigo, pra pior, infelizmente, passe em qualquer ponto da cidade pra você ver os filhos abandonados e que são adotados pelo crack, pela okd, ou eua, pcc ou cv, é triste. Nem quem se diz das forças de “segurança”, quando chega ao poder tem um plano para enfrentar a questão social, falavam do governo do pt, que não reduziu e nem teve um plano de segurança. ma o chefe de policia(sem desmerecer a classe, por favor) que está na presidência ou na assembleia legislativa (e tem mais pessoas que se enquadram aqui)sabe o que é a questão social no nosso país? ele tem algum plano? ele implantou alguma politica de qualquer coisa até agora? vão ser quatro anos sem nada e o pior, piorando.

    Sinceramente estou muito envergonhado com (não posso mais usar o pronome “minha”) João Pessoa. Mudamos pra pior. Infelizmente.

  • Reply POMPEU 5 de agosto de 2019 at 08:51

    Tião Lucena, não seja injusto com a Rua da Areia. Vivo nessa rua há 37 anos. É verdade que aqui existem cabarés, mas, são apenas três e não incomodam ninguém. Sou vizinho do Cabaré de Lucinha e aqui tem mais respeito do que alguns quiosques da orla marítima. Pode crer. Aqui residem muitas famílias de respeito. Portanto, é necessário ter respeito e cuidado com o que escreve. Sou leitor e apreciador do seu blog.

    • Reply Sebastião 5 de agosto de 2019 at 09:21

      Aceite minhas escusas. Qualquer dia desses farei uma visita

  • Reply Angela 5 de agosto de 2019 at 09:15

    Por que a PMJP não contratou um artista paraibano para fazer o show principal da
    Festa das Neves?
    Com tantos talentos da terra, não precisavam contratar o Fagner.
    Mesmo por que Elba, Zé Ramalho, Chico César, Amazam, Escurinho, e outros,
    atrairiam até mais público.

  • Reply Delfos 5 de agosto de 2019 at 15:08

    Nordestino é um povo que faz sabe fazer piada até das desgraças.
    Hoje pela manhã, com o zum-zum da fakenews do tsumani, não faltou quem
    fizesse piada:
    “Tsunami no Nordeste foi cancelado por falta de verbas”

    Esse é um povo que sabe como ser feliz, e forte sempre.

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