Memórias

As primeiras do dia

9 de novembro de 2020

Famoso comício de Antonio Mariz em Princesa no ano de 1982, em frente a casa de Nominando.

Meu primeiro voto para governador aconteceu na famosa eleição de 82, quando Antonio Mariz perdeu para Wilson Braga por causa do voto vinculado. Saíamos de um longo período de eleições indiretas para governador inventadas pela revolução para evitar uma derrota dos seus candidatos e, em 82, mesmo com a volta das diretas, os presidentes militares criaram a figura do voto vinculado para prender o eleitor a compromissos menores.

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O voto vinculado era assim: O eleitor, que tinha o compromisso de votar no deputado fulano de tal, teria que votar, também, no governador e no senador do seu partido, senão o voto seria anulado.

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Votei em Mariz, que perdeu feio.

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Alguns chefes políticos recomendaram o voto camarão, aquele em que o eleitor votava do pescoço pra baixo, esquecendo a cabeça.

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Nominando, em Princesa, que a princípio era a favor do voto camarão, terminou aderindo a Braga depois de um discurso de João Agripino, num comício em frente a sua casa, em que o chamou de ingrato e frouxo. Assim, Braga ganhou o apoio dos Nominando Diniz e pela primeira vez Pereira e Diniz se irmanaram em torno de um só candidato.

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Em 86 Burity ganhou folgado do candidato de Wilson Braga, Marcondes Gadelha. Desta vez eu não perdi meu voto. Braga também foi derrotado pela denúncia do Correio da Paraíba, que lhe atribuiu a pecha de mandante da morte de Paulo Brandão.

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Mas nos pleitos seguintes foi à forra, se elegendo, primeiro vereador e depois prefeito de João Pessoa, mandato que não terminou porque em 90 se candidatou ao Governo do Estado, passando a Prefeitura para o vice Carlos Mangueira, que como sabemos terminou rompendo com ele.

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Ronaldo Cunha Lima derrotou Braga em 90, no segundo turno. Criou o slogan “A viola contra a pistola” e se deu bem, embora no final do Governo, exatamente em 93, tenha desmentido o próprio slogan ao atirar na boca de Burity no ainda hoje impune atentado do Gulliver.

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Naquela eleição Burity lançou João Agripino Neto como candidato a governador pelo PRN, já que rompera com o PMDB. E João Neto, embora indiretamente, concorreu para que houvesse o segundo turno e, com isso, evitou a vitória de Braga já no primeiro. No segundo turno os eleitos pelo partido de Burity aderiram em massa a Ronaldo, fazendo valer aquela máxima que diz: Governo em fim de mandato não manda nem no garçom do Palácio.

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Veio a eleição de 94 e Lúcia Braga despontava como a franca favorita, enfrentando um Antonio Mariz debilitado pelo câncer que o deixava fraco das pernas e o obrigava a ser ajudado para subir nos palanques. Mas aí criaram o fenômeno Gesner Caetano e Lúcia afundou com os carros do empresário campinense.

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Gesner era do partido de Lúcia e queria se eleger deputado federal. Como era muito rico, distribuiu carros com as lideranças políticas dispostas a votar nele. Carros novos, do ano, foram entregues de Cabedelo a Cachoeira dos Índios. Depois inventaram que os carros eram roubados. Apreenderam todos e os trouxeram em fila indiana, com as luzes piscando e as buzinas tocando, para João Pessoa. Tudo isso filmado e exibido no guia como sendo os carros roubados de Gesner para beneficiar Lúcia Braga.

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Não deu outra: Lúcia perdeu a eleição.

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Mariz pouco governou. Seu vice, Zé Maranhão, praticamente foi o governador do começo ao fim. No meio do mandato, Mariz morreu e Zé se tornou governador de fato e de direito. E governou bem. Tanto governou que em 98 foi reeleito, enfrentando um raquítico Gilvan Freire, que foi jogado na fogueira e abandonado pelos caciques do seu partido.

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Veio o pleito de 2002. Maranhão deixara o Governo nas mãos de Roberto Paulino, seu vice. Zé se elegeria senador com uma votação enorme e Paulino, candidato à reeleição, perdeu para Cássio Cunha Lima por uma raquítica diferença de 40 mil votos.

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Quatro anos depois, em 2006, Cássio se reelegeu contra Zé Maranhão e a diferença foi, novamente, apertada: 43 mil votos. Foi a famosa eleição do dinheiro voador. Cássio não terminou o mandato. Foi cassado pelo TRE por conduta vedada e por uso indevido do jornal oficial. E Zé Maranhão, que fora derrotado na eleição, assumiu o Governo por ter sido o segundo mais votado.

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Bem, por hoje é só. Quem sabe amanhã a gente continua…

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